TERNURA

Ontem , te senti dodói, meu menino. Em minha alma, onde moras , neblinou o dia todo. Nem um solzinho pequeno caminhou por nossas janelas. Por te sentir caladinho, fechei minhas palavras e meus sons. Deixei-te caminhar silencioso por nosso quarto, nosso jardim, nossa varanda.

No finalzinho da tarde, acendi a lareira pra aquecer ,um nada ,nosso frio.

No fogão à lenha, a chaleira apitou seu convite a um chá de maracujá com canela.

Mergulhei-me em teus olhos e te ofereci um lugar à mesa e nos assentamos. Quanta fome de bolinhos de chuva salpicados de afeto!

Tive uma vontade tão imensa de tocar de leve teus cabelos com respingos de neve....e ,em meu silencio , te nimar com uma canção qualquer .

Cruzamos os dedos, sobre a mesa da Saudade e nossos olhos , morenos, se juntaram num longo e caloroso abraço.

Um barulhinho suave nos desviou ,de dentro , para fora de nós. Era um beija-flor, dançando entre as magnólias, em frente à porta do quintal. Ele passeava tão feliz, em seu voo de amor e despedida do dia, batendo as asinhas, pairando , solene e garboso, pra descansar em pleno ar, beijando, docemente, uma....duas....tres florinhas mimosas e faceiras. Você perdeu-se de amores pelo bichinho.

E sorriu.

Teu primeiro sorriso em nosso dia de chuva.

Meu coração colheu aquele sorriso, com calma, pra não quebrá-lo. Aconchegado em meu amor, teu sorriso floresceu.

O beija-flor partiu . As magnólias, beijadas e satisfeitas, exalaram o mais doce perfume . Eu abri meu abraço e fui ao encontro do teu cansaço.

Nada tem real importância, depois que um beija-flor nos enfeita a Saudade e o Amor.

Meus olhos repetiram: 'eu te amo'.....os teus, responderam: 'eu também'.

E o sol se pôs sobre nossos sonhos.