Não, não fiz para você.

Coisa interessante. Escrevemos porque escrevemos. Assim como quando cantamos ou fazemos uma música. Escrever é ato do "eu-lírico" e mesmo que a todo mundo haja algo intrínseco -- ou seja, escrever tem motivos -- não quer dizer que se tenha feito para alguma pessoa.

Não, não fiz para você. É preciso entender que mesmo quando se faz para alguém, uma poesia, uma música, há algo ali, alguma coisa querendo falar além do quê, "tenha feito aquilo para você". Em poesia quem fala são as musas, são as sacerdotisas, são os âmagos, os sis, os selfs, os sentimentos internos e mesmo assim transcendentes.

Que bom que você sentiu algo mais quando leu a poesia. Que bom que se sentiu "sentindo", porque no fundo o objetivo é esse mesmo -- fazer o outro sentir; não o que eu sinto, mas somente aquilo que o outro pode sentir. É abrir as portas ao sentimento, às afecções.

Quando se escreve algo para alguém, há algo mais que fazer algo para alguém. Há o dizer sincero do que não pode ser dito -- ou que não se tem coragem para tal, ainda. Há o retrucar absurdo de um argumento poético -- e que caia o mundo, o poeta quando sabe do que fala, sabe o motivo do que fala, mesmo que "tenha sido para você". Porque nunca é só para você. É também por ele mesmo. É também por qualquer um que leia e se sinta "sentindo" ao ler sua poesia.

Não, não fiz SÓ para você.