P E S A D E L O
Prof Paulo Carneiro
"A MENTE AFLITA, SUFOCA O GRITO DE DOR, DIANTE DO PERIGO IMINENTE"
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"A mente aflita, sufoca o grito de dor diante do perigo iminente. Rapidamente às cordas do laringe, restringem-se ao sufoco, e um grito rouco, quase inaudível, reverbera-se dentro do corpo aumentando o desespero de quem anseia por socorro"( Paulo Carneiro ).
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Respiração ofegante embala a noite de sono de quem se vê prostrado ao abandono sem nada poder fazer, sequer argumentar ou lançar-se ao exercício de uma vida sem percalços, sem embaraços, sem traição. Levantar-se e poder correr, abraçar impedir que o mal se desvele, antes que seja tarde...Cadê meus pés ? E as mãos ? Por que não me respondem? Enquanto isso, o coração bate e rebate numa aflição rítmica crescente, talvez em busca do equilíbrio de suas revoluções e a manutenção dos processos vitais. Ouve-se ao longe, conversas e ruídos indecifráveis. --- Sussurrando por dentro do corpo, ecoa um grito rouco em busca de socorro. Ninguém aparece... qualquer coisa que pudesse identificar o moribundo desgastado na redoma do silêncio atroz. Não há ninguém além do próprio moribundo em busca de si mesmo, tentando, resistindo, digladiando-se, arquejando, movendo-se impacientemente e forçado a viver preso em si mesmo, prisão intra-pessoal. Qual a razão de tudo isso? Desincumbir-se de quem então ? De si mesmo ? Não ! Melhor refletir ! Idéias vãs vão passando na tela da mente, sentimentos sem sentido, lampejos de liberdade, o ofuscação, inércia existencial, tentativas incapazes de se redescobrir, nau à deriva, atestado de óbito em curso, tudo é incerto... coitado, quem será o dono do defunto ?...De repente à reflexão... será que estou vivo? Será que sou eu ?... Não vejo ninguém por aqui ! Será que me enterraram vivo ? Ah ! ... Quanto preciso descobrir sobre este castigo que a mim aplicaram. Sequer, avisaram-me previamente.... Vou tentar gritar , gritar e gritarrrrr... fugir, fugir deste abandono insano e moribundo...enquanto puder, enquanto a voz não calar... Não,.. não devo desistir de sonhar sob hipótese alguma! Mesmo nas circunstâncias em que me encontro... mesmo não conseguindo comunicar-me com o mundo, mesmo imerso neste marasmo de pensamentos sem respostas. Parece até que ninguém me percebe, ou ainda, que todos, de repente, viraram-me às costas! Paro aflito, reflito, contradito então... Sou apenas um alvo restrito as conjeturas do instante,...consoante, não devo afastar-me do mais importante: Sobreviver! Este é o meu lema principal. Esta é a minha "nau capitânea"...Eis-me a razão de minha existência : Sobrevivência !
Sinto lentamente a vida repassando... minha cabeça atônita curva-se a refletir sobre o passado, legado de um tempo esquecido, pensamentos fluindo numa velocidade galopante, impressionante,... ora analisando infortúnios oriundos da busca pelo prazer e, em momentos pontuais, debruçando-se sob a extrema insegurança do depois, como um metal rígido podendo sucumbir diante de altas temperaturas. Levando-me aos mais descabidos murmúrios de esperanças.
Em frações de segundos, revejo experiências vividas, desde o período mais tenro de criança, até as mais recentes lembranças rebuscadas através da mente percrustante. Antes, tudo era muito belo, impregnado de novidades, hoje, o mais belo está a mercê de um fio de esperança, paulatinamente, desfazendo-se a cada segundo, desfiando-se em resquícios de perseverança. Vida aprisionada pelo absurdo de incertezas! Derramando-se-se ao sabor dos anos, já que não me traz nenhum alento. Ah! Alguma coisa eu fiz . Vejamos então: Já rezei na Cartilha da Procriação e do Pecado Original, também no antigo costume de se escrever um Livro ou de Plantar um vegetal qualquer, como forma de se ratificar a masculinidade socialmente ultrapassada. Nada disso trouxe à tona, o ser encantado dos contos de fada,.O super-herói existente na mídia cinematográfica não levantou voo, ficando de asas caídas e capas ao chão.. Quanto dogma ! Quanto engano ! Quanto folclore ! Quanta imprecisão. Nota mil para as boas ações. Que reste alguma coisa no final sem fim ! Todavia, estamos na era da Cibernética, Internet, dos mísseis guiados, dos sete bilhões de pessoas que as vozes da sociedade e os úteros maternos acabaram de anunciar em nossa nave "Terra". Ainda preciso de mim mesmo, tenho compromissos muito fortes com a felicidade, com a liberdade de sonhar, com a redescoberta de um mundo cada vez melhor, essencialmente, humanitário e em harmonia com valores que tragam um sabor gostoso de se viver.
O tempo cronológico vai passando e o meu tempo psicológico parou. Socoooorro !!! Não consigo vislumbrar com nitidez onde estou nem como aqui cheguei. Socoooorro!... Acudam...estou aquiiiii ! ...Alguém me escuta ? ...Silêncio sepulcral ! Doses à conta-gotas de desespero !...Só o silêncio tentando dizer-me alguma coisa imperceptível à luz da minha compreensão. Aprendi que nele manifesta-se uma forma de expressão bastante eficaz em resposta a determinados acontecimentos e/ou ocasiões. Será que esta será a melhor estratégia a ser utilizada em prol do resgate de minha vida de relação? Será que não seria essa a forma ideal de inserir-me novamente ao convívio social ?
Toda minha fisiologia apontava na direção contrária ao que se preconizara sobre o pensamento anterior. O instinto pela sobrevivência prevaleceu e não esqueceu de lembrar-me da necessidade de restaurar minha identidade humana, livre de quaisquer impedimentos, e, em seguida, passar a ocupar-me com outros aspectos , inclusive os de cunho, essencialmente, filosófico. Por outro lado , achei que o silêncio, neste caso, iria entregar-me à sorte e ao abandono. A escolha pelo silêncio iria conduzir-me à derrocada total, caso nenhuma reação enérgica se esboçasse... Preciso reagir, preciso dizer que existo! Preciso mostrar que estou vivo!
Surgiu-me a lembrança de um acontecimento inusitado durante o tempo de criança : Eu e os meus três irmãos, recebemos de um vizinho distante, um cachorrinho recém saído do período de amamentação. Como não tínhamos algum e morávamos numa região cercada de bastante árvores, havia espaço de sobra. O presente fora bem aceito pela família, com o objetivo de utilizá-lo também como guardião de nossa pequena criação de animais domésticos. Passamos por alguns pequenos conflitos de rotina no tocante a escolha de um nome para o animal, além da maneira correta de alimentá-lo e, adotarmos a melhor estratégia para evitar que o pequenino animal promover-se um alarde de grunhidos, principalmente, durante às noites. Coisa que poderia incomodar a todos de nossa casa mais a vizinhança próxima. Digerimos algumas noites de verdadeiros castigos, alternados, com frequência, entre o dormir e o acordar, o acordar e o levantar e tentar alimentar inutilmente o pequenino animal, pois, parecia-nos que o mesmo, ainda não conseguia aceitar muito a idéia de dormir sozinho. Ainda assim , estávamos convictos da presença de nosso herói que em alguns momentos nos pregava determinadas peças, difíceis de serem esquecidas, como :
Esconder sapatos, roer cadarços, dormir na nossa cama, insistir em nos acompanhar à escola, enraivecer-se com os nossos amigos. Assim, passamos dois meses com a nossa nova cria. Quando, em certo dia ... sentimos sua falta. De repente, sumiu !!!... Caçada geral : Promovemos uma verdadeira caçada ao animal. Lamentavelmente, não o encontramos. E o “veludo” passou a ocupar um espaço especial em nossas mentes , tendo nos deixado uma série de lembranças indeléveis,
Passados alguns dias, tínhamos o hábito aos domingos de almoçarmos juntos. Toda a família a rir, cantarolar e conversar sobre o dia a dia durante as semanas que se passaram e os projetos a serem desenvolvidos e acompanhados nos dias subseqüentes. Veio à tona o caso “Veludo” nome do cachorrinho atribuído pelo meu pai. No exato momento em que minha irmã lacrimejava pela saudade do animalzinho, ouvimos um latido infantil de cachorro no portão central de nossa casa. Dada a insistência dos latidos , fomos até lá juntos verificar. Não conseguimos conter a emoção...era o “Veludo”com as patas dianteiras estendidas por debaixo do portão, orelhas em pé, língua estirada e a cauda abanando de satisfação. Nos esbaldamos em alegrias naquele instante juntamente com ele que percorreu algumas vezes os recantos da casa , sob o corococo vocal das galinhas que não paravam de cacarejar, como se estivessem dando boas vindas ao seu retorno. A partir desse acontecimento empreendemos uma maior vigilância sobre o fujão que cresceu e viveu com a família durante 12 anos, tendo sido enterrado, após sua morte, por nós, em nossa propriedade após um convívio maravilhoso impregnado de muitas lembranças.
Baseado nesta lembrança, será que posso fugir do local onde estou, assim como o Veludo o fez ? Não consigo enxergar nada muito bem , não tenho a certeza de nada aqui...Ah ! Estou preso, não numa solitária de presídio porque no mínimo eu tocaria as paredes, ouviria talvez, vozes nos corredores, um raio de luz poderia, no mínimo, dar-me uma melhor impressão desse lugar. Será que perdi parcialmente a visão ? Também acho que não ! Existiriam pessoas ao meu redor para que eu pudesse conversar. Devo estar louco ou sofrendo de algum distúrbio mental passageiro, não sei, talvez...de imediato sinto a convicção que o estado em que me encontro foje aos padrões de normalidade. Prefiro imaginar-me assim, atravessando uma certa turbulência comportamental, que por não ser freqüente, acho ,simplesmente, que estou louco , embora não seja louco. Qual seria então a melhor explicação para essa tal turbulência ? É que estou me sentindo preso dentro de mim mesmo, sou réu e vítima, sou caça e caçador, sou o carrasco e o condenado ou seja, o meu eu conflita-se comigo mesmo. Qual seria então a grande solução ? Pedir uma ajuda externa através de pessoas especializadas no assunto que possam contribuir com o seu conhecimento e experiências sobre esse distúrbio da mente, de outra forma , acredito que a eliminação deste conflito promoveria a integração dos eus ( O homem é um ser plural) e consequentemente a individualização do ser. Com a integração dos eus, o ser perderia suas características primaciais e passaria a ser um outro ser. Portanto, aquele ser inicial deixou de existir .
Infelizmente não tenho como compreender ao certo o estado em que me encontro. Então, uma outra possibilidade veio à tona. Será que me encontro restrito ao leito de um Hospital qualquer, em estado de coma reversível ? Será que sofri, instantâneamente, algum trauma ou um ‘acidente vascular cerebral’ para caracterizar-me dentro deste quadro ? Perda total da consciência não houve, razão pela qual, continuo pensando e buscando saída eficaz para a situação em que me vejo. Não vou desistir de nada, mesmo que não consiga compreender de imediato o que anda se passando pela minha cabeça . A realidade surge como resultado de um sonho posto em ação. Não sei se preciso agora, nesse instante, sonhar em outros aspectos da vida, mas, tenho a certeza que estou sonhando no sentido de dirimir o difícil momento que me encontro atravessando.
Sinto a respiração bastante ofegante, com a sensação , às vezes, de falta de ar e de uma certa opressão toráxica. Sinto agora, o meu grande amor acenando, partindo e cada vez mais se distanciando... Meu Deus é o fim ! Não posso correr, não consigo, sequer , levantar . Só me resta gritar...gritar...gritar...Não, não vá meu amor , não me deixes ...Não vá...Não! Não! Não !!!
"De repente, as luzes se acendem", subitamente desperto com bastante ansiedade e vejo o meu amor, ao meu lado, dizendo-me suavemente...Não foi nada querido, você estava apenas sonhando!
Ainda um tanto quanto atônito, fui gradativamente recuperando a consciência normal e, em seguida, disse-lhe com muito zelo, que teria sido vítima de um “Pesadelo”, que após uma verdadeira excursão, buscando uma explicação plausível para o que se passou comigo, e o local onde eu me encontrava, presenciei ao final, sua imagem se afastando de mim e acenando um adeus que parecia-me definitivo. O nosso Deus sentindo toda minha agonia, fez com que você percebesse o quanto sofria, sentia, em toda aquela agonia, uma dor pungente, dilacerante, até que a voz e a luz de tua presença naquele instante, devolveram-me o prazer de estar contigo, retirando-me desse cruel castigo que um sonho em certa noite me proporcionou .
Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 28/07/2011
Reeditado em 03/07/2014
Código do texto: T3123451
Classificação de conteúdo: seguro
Prof Paulo Carneiro
"A MENTE AFLITA, SUFOCA O GRITO DE DOR, DIANTE DO PERIGO IMINENTE"
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"A mente aflita, sufoca o grito de dor diante do perigo iminente. Rapidamente às cordas do laringe, restringem-se ao sufoco, e um grito rouco, quase inaudível, reverbera-se dentro do corpo aumentando o desespero de quem anseia por socorro"( Paulo Carneiro ).
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Respiração ofegante embala a noite de sono de quem se vê prostrado ao abandono sem nada poder fazer, sequer argumentar ou lançar-se ao exercício de uma vida sem percalços, sem embaraços, sem traição. Levantar-se e poder correr, abraçar impedir que o mal se desvele, antes que seja tarde...Cadê meus pés ? E as mãos ? Por que não me respondem? Enquanto isso, o coração bate e rebate numa aflição rítmica crescente, talvez em busca do equilíbrio de suas revoluções e a manutenção dos processos vitais. Ouve-se ao longe, conversas e ruídos indecifráveis. --- Sussurrando por dentro do corpo, ecoa um grito rouco em busca de socorro. Ninguém aparece... qualquer coisa que pudesse identificar o moribundo desgastado na redoma do silêncio atroz. Não há ninguém além do próprio moribundo em busca de si mesmo, tentando, resistindo, digladiando-se, arquejando, movendo-se impacientemente e forçado a viver preso em si mesmo, prisão intra-pessoal. Qual a razão de tudo isso? Desincumbir-se de quem então ? De si mesmo ? Não ! Melhor refletir ! Idéias vãs vão passando na tela da mente, sentimentos sem sentido, lampejos de liberdade, o ofuscação, inércia existencial, tentativas incapazes de se redescobrir, nau à deriva, atestado de óbito em curso, tudo é incerto... coitado, quem será o dono do defunto ?...De repente à reflexão... será que estou vivo? Será que sou eu ?... Não vejo ninguém por aqui ! Será que me enterraram vivo ? Ah ! ... Quanto preciso descobrir sobre este castigo que a mim aplicaram. Sequer, avisaram-me previamente.... Vou tentar gritar , gritar e gritarrrrr... fugir, fugir deste abandono insano e moribundo...enquanto puder, enquanto a voz não calar... Não,.. não devo desistir de sonhar sob hipótese alguma! Mesmo nas circunstâncias em que me encontro... mesmo não conseguindo comunicar-me com o mundo, mesmo imerso neste marasmo de pensamentos sem respostas. Parece até que ninguém me percebe, ou ainda, que todos, de repente, viraram-me às costas! Paro aflito, reflito, contradito então... Sou apenas um alvo restrito as conjeturas do instante,...consoante, não devo afastar-me do mais importante: Sobreviver! Este é o meu lema principal. Esta é a minha "nau capitânea"...Eis-me a razão de minha existência : Sobrevivência !
Sinto lentamente a vida repassando... minha cabeça atônita curva-se a refletir sobre o passado, legado de um tempo esquecido, pensamentos fluindo numa velocidade galopante, impressionante,... ora analisando infortúnios oriundos da busca pelo prazer e, em momentos pontuais, debruçando-se sob a extrema insegurança do depois, como um metal rígido podendo sucumbir diante de altas temperaturas. Levando-me aos mais descabidos murmúrios de esperanças.
Em frações de segundos, revejo experiências vividas, desde o período mais tenro de criança, até as mais recentes lembranças rebuscadas através da mente percrustante. Antes, tudo era muito belo, impregnado de novidades, hoje, o mais belo está a mercê de um fio de esperança, paulatinamente, desfazendo-se a cada segundo, desfiando-se em resquícios de perseverança. Vida aprisionada pelo absurdo de incertezas! Derramando-se-se ao sabor dos anos, já que não me traz nenhum alento. Ah! Alguma coisa eu fiz . Vejamos então: Já rezei na Cartilha da Procriação e do Pecado Original, também no antigo costume de se escrever um Livro ou de Plantar um vegetal qualquer, como forma de se ratificar a masculinidade socialmente ultrapassada. Nada disso trouxe à tona, o ser encantado dos contos de fada,.O super-herói existente na mídia cinematográfica não levantou voo, ficando de asas caídas e capas ao chão.. Quanto dogma ! Quanto engano ! Quanto folclore ! Quanta imprecisão. Nota mil para as boas ações. Que reste alguma coisa no final sem fim ! Todavia, estamos na era da Cibernética, Internet, dos mísseis guiados, dos sete bilhões de pessoas que as vozes da sociedade e os úteros maternos acabaram de anunciar em nossa nave "Terra". Ainda preciso de mim mesmo, tenho compromissos muito fortes com a felicidade, com a liberdade de sonhar, com a redescoberta de um mundo cada vez melhor, essencialmente, humanitário e em harmonia com valores que tragam um sabor gostoso de se viver.
O tempo cronológico vai passando e o meu tempo psicológico parou. Socoooorro !!! Não consigo vislumbrar com nitidez onde estou nem como aqui cheguei. Socoooorro!... Acudam...estou aquiiiii ! ...Alguém me escuta ? ...Silêncio sepulcral ! Doses à conta-gotas de desespero !...Só o silêncio tentando dizer-me alguma coisa imperceptível à luz da minha compreensão. Aprendi que nele manifesta-se uma forma de expressão bastante eficaz em resposta a determinados acontecimentos e/ou ocasiões. Será que esta será a melhor estratégia a ser utilizada em prol do resgate de minha vida de relação? Será que não seria essa a forma ideal de inserir-me novamente ao convívio social ?
Toda minha fisiologia apontava na direção contrária ao que se preconizara sobre o pensamento anterior. O instinto pela sobrevivência prevaleceu e não esqueceu de lembrar-me da necessidade de restaurar minha identidade humana, livre de quaisquer impedimentos, e, em seguida, passar a ocupar-me com outros aspectos , inclusive os de cunho, essencialmente, filosófico. Por outro lado , achei que o silêncio, neste caso, iria entregar-me à sorte e ao abandono. A escolha pelo silêncio iria conduzir-me à derrocada total, caso nenhuma reação enérgica se esboçasse... Preciso reagir, preciso dizer que existo! Preciso mostrar que estou vivo!
Surgiu-me a lembrança de um acontecimento inusitado durante o tempo de criança : Eu e os meus três irmãos, recebemos de um vizinho distante, um cachorrinho recém saído do período de amamentação. Como não tínhamos algum e morávamos numa região cercada de bastante árvores, havia espaço de sobra. O presente fora bem aceito pela família, com o objetivo de utilizá-lo também como guardião de nossa pequena criação de animais domésticos. Passamos por alguns pequenos conflitos de rotina no tocante a escolha de um nome para o animal, além da maneira correta de alimentá-lo e, adotarmos a melhor estratégia para evitar que o pequenino animal promover-se um alarde de grunhidos, principalmente, durante às noites. Coisa que poderia incomodar a todos de nossa casa mais a vizinhança próxima. Digerimos algumas noites de verdadeiros castigos, alternados, com frequência, entre o dormir e o acordar, o acordar e o levantar e tentar alimentar inutilmente o pequenino animal, pois, parecia-nos que o mesmo, ainda não conseguia aceitar muito a idéia de dormir sozinho. Ainda assim , estávamos convictos da presença de nosso herói que em alguns momentos nos pregava determinadas peças, difíceis de serem esquecidas, como :
Esconder sapatos, roer cadarços, dormir na nossa cama, insistir em nos acompanhar à escola, enraivecer-se com os nossos amigos. Assim, passamos dois meses com a nossa nova cria. Quando, em certo dia ... sentimos sua falta. De repente, sumiu !!!... Caçada geral : Promovemos uma verdadeira caçada ao animal. Lamentavelmente, não o encontramos. E o “veludo” passou a ocupar um espaço especial em nossas mentes , tendo nos deixado uma série de lembranças indeléveis,
Passados alguns dias, tínhamos o hábito aos domingos de almoçarmos juntos. Toda a família a rir, cantarolar e conversar sobre o dia a dia durante as semanas que se passaram e os projetos a serem desenvolvidos e acompanhados nos dias subseqüentes. Veio à tona o caso “Veludo” nome do cachorrinho atribuído pelo meu pai. No exato momento em que minha irmã lacrimejava pela saudade do animalzinho, ouvimos um latido infantil de cachorro no portão central de nossa casa. Dada a insistência dos latidos , fomos até lá juntos verificar. Não conseguimos conter a emoção...era o “Veludo”com as patas dianteiras estendidas por debaixo do portão, orelhas em pé, língua estirada e a cauda abanando de satisfação. Nos esbaldamos em alegrias naquele instante juntamente com ele que percorreu algumas vezes os recantos da casa , sob o corococo vocal das galinhas que não paravam de cacarejar, como se estivessem dando boas vindas ao seu retorno. A partir desse acontecimento empreendemos uma maior vigilância sobre o fujão que cresceu e viveu com a família durante 12 anos, tendo sido enterrado, após sua morte, por nós, em nossa propriedade após um convívio maravilhoso impregnado de muitas lembranças.
Baseado nesta lembrança, será que posso fugir do local onde estou, assim como o Veludo o fez ? Não consigo enxergar nada muito bem , não tenho a certeza de nada aqui...Ah ! Estou preso, não numa solitária de presídio porque no mínimo eu tocaria as paredes, ouviria talvez, vozes nos corredores, um raio de luz poderia, no mínimo, dar-me uma melhor impressão desse lugar. Será que perdi parcialmente a visão ? Também acho que não ! Existiriam pessoas ao meu redor para que eu pudesse conversar. Devo estar louco ou sofrendo de algum distúrbio mental passageiro, não sei, talvez...de imediato sinto a convicção que o estado em que me encontro foje aos padrões de normalidade. Prefiro imaginar-me assim, atravessando uma certa turbulência comportamental, que por não ser freqüente, acho ,simplesmente, que estou louco , embora não seja louco. Qual seria então a melhor explicação para essa tal turbulência ? É que estou me sentindo preso dentro de mim mesmo, sou réu e vítima, sou caça e caçador, sou o carrasco e o condenado ou seja, o meu eu conflita-se comigo mesmo. Qual seria então a grande solução ? Pedir uma ajuda externa através de pessoas especializadas no assunto que possam contribuir com o seu conhecimento e experiências sobre esse distúrbio da mente, de outra forma , acredito que a eliminação deste conflito promoveria a integração dos eus ( O homem é um ser plural) e consequentemente a individualização do ser. Com a integração dos eus, o ser perderia suas características primaciais e passaria a ser um outro ser. Portanto, aquele ser inicial deixou de existir .
Infelizmente não tenho como compreender ao certo o estado em que me encontro. Então, uma outra possibilidade veio à tona. Será que me encontro restrito ao leito de um Hospital qualquer, em estado de coma reversível ? Será que sofri, instantâneamente, algum trauma ou um ‘acidente vascular cerebral’ para caracterizar-me dentro deste quadro ? Perda total da consciência não houve, razão pela qual, continuo pensando e buscando saída eficaz para a situação em que me vejo. Não vou desistir de nada, mesmo que não consiga compreender de imediato o que anda se passando pela minha cabeça . A realidade surge como resultado de um sonho posto em ação. Não sei se preciso agora, nesse instante, sonhar em outros aspectos da vida, mas, tenho a certeza que estou sonhando no sentido de dirimir o difícil momento que me encontro atravessando.
Sinto a respiração bastante ofegante, com a sensação , às vezes, de falta de ar e de uma certa opressão toráxica. Sinto agora, o meu grande amor acenando, partindo e cada vez mais se distanciando... Meu Deus é o fim ! Não posso correr, não consigo, sequer , levantar . Só me resta gritar...gritar...gritar...Não, não vá meu amor , não me deixes ...Não vá...Não! Não! Não !!!
"De repente, as luzes se acendem", subitamente desperto com bastante ansiedade e vejo o meu amor, ao meu lado, dizendo-me suavemente...Não foi nada querido, você estava apenas sonhando!
Ainda um tanto quanto atônito, fui gradativamente recuperando a consciência normal e, em seguida, disse-lhe com muito zelo, que teria sido vítima de um “Pesadelo”, que após uma verdadeira excursão, buscando uma explicação plausível para o que se passou comigo, e o local onde eu me encontrava, presenciei ao final, sua imagem se afastando de mim e acenando um adeus que parecia-me definitivo. O nosso Deus sentindo toda minha agonia, fez com que você percebesse o quanto sofria, sentia, em toda aquela agonia, uma dor pungente, dilacerante, até que a voz e a luz de tua presença naquele instante, devolveram-me o prazer de estar contigo, retirando-me desse cruel castigo que um sonho em certa noite me proporcionou .
Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 28/07/2011
Reeditado em 03/07/2014
Código do texto: T3123451
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