Ausência de Dúvidas

Somos projecções feéricas transbordantes da compaixão cosmológica.

Flutuamos sumptuosamente em fechados écrans, aprisionados num dilema extra dimensional.

Somos fantasmas presos no âmago do cosmos, pendentes do seu altruísmo caótico.

Brilhamos inebriantemente, como pirilampos esquecidos no espaço vazio, como matéria errante de efémera razão.

Somos um sonho incessante em busca da ausente eternidade existencial.

Somos a tela duma Guernica universal, a ser serenamente contemplada pelo vazio do espaço sideral.

Somos o pincel do pintor famoso, a pena do poeta, a música duma arpa a ecoar, a flor colorida a nascer.

Enchemos de beleza e horror os mundos desabitados de espirito crítico.

Tudo apenas ganha dimensão, quando por nós visionada, damos cor à cor das coisas, damos forma ao disforme, damos sincronismo ao anacrónico, damos esperança ao desalento.

Arrumei as dúvidas nas gavetas do meu contador racional, só me resta contemplar a beleza que embuto nas agregações elementares, e que perscruto incessantemente ao divagar.

A eternidade que se busca em vão, não é a certa, a eternidade está ao alcance do conhecimento entretanto almejado, a compreensão do universo e a sua contemplação somando ao desfruto da nossa vivência, são o cálice cheio do pseudo elixir da juventude.

Somos bolas de sabão ao sol deixadas à sorte, interrompidas pelo acaso.

Translúcidas reflectem o mundo que nos rodeia, essa informação primordial que processamos em variações infinitesimais e que se tornam inócuas, quando perdidas na imensidão das iníquas torrentes plasmáticas do universo em permanente bulício quântico.

Somos uma ode ao bom gosto, proclamada pelas estrelas ancestrais.

Atingimos o supra-sumo do entendimento metafísico, a essência da retórica existencialista, o não senso do positivismo arrogante, a maioridade na criação artística indulgente.

Falta-nos apenas o padecer perene do nosso mundo, criado à nossa imagem, nos confins do esquecimento absoluto e na escuridão da nossa alma obliterada de senso organizado, nunca mais alcançado, jamais renascido, para sempre olvidado.

Lx, 18-2-2013

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 03/07/2014
Código do texto: T4868933
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