Natal Desencantado I
O Natal reincidente, vindo inebriante e jocoso da mítica terra dos sonhos, voltou implacável uma vez mais imbuído numa hipocrisia indescritível.
A caridadezinha natalícia, os centros comerciais em rodopio, os benignos filmes de natal, os circos sem feras, as mensagens de natal oficiais vazias de tão banais, a publicidade sem fim, os rituais religiosos inconsequentes, todos enchem de coisa nenhuma as mentes submissas.
A manipulação das massas é tão descarada, que quase deixa de ser óbvia, quando passa a servir a iniquidade do povo e o seu servilismo abjecto.
Um cansaço atroz começa a vingar em todo o lado: as mesmas músicas redundantes, a clonagem dos mesmos filmes, a sociabilidade das pessoas estereotipada à exaustão, as novelas das nossas vidas sempre iguais.
A previsibilidade da sua psicologia símia grotesca, pela humanidade adoptada há muito, esmaga de todo o bom senso que deveria ser inapto e essencial à evolução da espécie.
Sempre a mesma antropologia esgotada, uns a ansiarem o domínio da tribo, não olhando a meios para almejarem os seus objectivos, patéticos, manipulados até ao achincalhamento total, escravizados pela sua obsessão materialista.
E outros atingindo o topo da cadeia da bajulação, passam doravante a ser eles próprios os objectos da adoração, cientes agora da sua bestialidade arrogante, assumida deliberadamente, pavoneiam-se entre os seus pares.
Eles castigam, controlam, ordenam, impõem os seus próprios conceitos de vida, como verdades absolutas, na sua coutada de imbecilidades.
Nego-vos a todos vós ignotos, a luz divinal cintilante que em vós julgastes ter incidido um dia, e que doravante se perderá na escuridão da minha alma obscura e viciada de razão.
Venham antes a mim todos, sequiosos de respostas sem soluções, eu embalar-vos-ei nos meus braços frios desdenhosos, e cantarei canções de pesar, a contar as vossas vidas, em histórias de lamentar e entoando baixinho melodias de exorcizar.
A moral dos tolos estabeleceu a sua morada em mim, Eu, talvez o maior reaccionário dos cânones idealistas humanitários.
Até quando a negação da essência da condição humana como tal, os seus defeitos e ignomínias que eu perscruto no meu entendimento, e que enchem de pesadelos perpétuos os meus perenes sonhos de criança.
Homens e mulheres agrilhoados instintivamente às suas acções animalescas, recauchutadas de milhões de anos de evolução hominídea, cativos na genética programatizada há muito, muito tempo. Tenhamos todos em uníssono, piedade de nós.
Lx, 24-12-2012