Divindade mortalizada
Jorge Luiz da Silva Alves



Do seu claustro dourado, ela ouve o vagalhão de emoções que chicoteiam a superfície dos trópicos. Ela escuta o tilintar das moedas sonantes e legais que os fascistas e os muitos Iscariotes embolsam, nas tertúlias esportivas quadrienais. Compactua, distante e impotente, com o choro dos excluídos, demoniza também a farra dos nababos, observa o desfile dos deuses enchuteirados no gramado e suas sensações tipicamente mortais.

Do seu claustro, quieto e escuro, forrado de lápis-lázuli e veludo, trinta metros abaixo da superfície carioca, guardada por poderosos pretorianos, ela espera o momento solene em que sairá para a apoteose máxima do esporte universal, para as mãos do próximo Teseu ensanguentado com a satisfação vitoriosa dos heróis, e mudará de domicílio - submissa, porém poderosamente ilimitada no arquétipo das nações.

Do seu claustro dourado e aveludado, ela espera...



(Arte: Emma Allen, R.U.)

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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 02/07/2014
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