Masoquismo
Cansam-me de tédio, os seus sonhos e ambições ignóbeis e fúteis, as suas frugais maneiras de viver, os seus valores ignominiosos e banais, os seus comportamentos mainstream bacocos, que toda a humanidade almeja alcançar.
Já me bastam e chegam as minhas vicissitudes intolerantes, que são vazias e inenarráveis, mas são de apenas alguns.
Continuo para bingo, insisto na indigência existencial, calcando-a à mais ínfima insignificância espiritual, a obsessão compulsiva do vazio, do nada, do zero absoluto, só assim consigo dar sentido à minha vida, e à própria essência do estar vivo.
Mantenho-me fiel ao princípio tubular antropomorfizado, a eternização da angústia na consciência da morte.
Não é à toa que as pessoas têm religião, para mitigar essa angústia crónica e primordial, posteriormente exorcizada.
Nós como seres desprovidos de religiosidade, estamos condenados às vicissitudes intemporais da mortalidade.
Não podendo negá-la, só nos resta contemplá-la, ou adorá-la no meu caso, vamos absorver a sua presença de diversas maneiras sensorialmente: na música, na literatura, na imensidão dos grandes espaços quer sejam subaquáticos, ou terrestres, montanhosos ou desérticos.
O niilismo incorpóreo absorto e intransigente, inundou-nos o espírito avassaladoramente, há muito tempo, rendidos ao caos absoluto do relativismo apócrifo vigente.
A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.
Lx, 3-7-2012