Masoquismo

Cansam-me de tédio, os seus sonhos e ambições ignóbeis e fúteis, as suas frugais maneiras de viver, os seus valores ignominiosos e banais, os seus comportamentos mainstream bacocos, que toda a humanidade almeja alcançar.

Já me bastam e chegam as minhas vicissitudes intolerantes, que são vazias e inenarráveis, mas são de apenas alguns.

Continuo para bingo, insisto na indigência existencial, calcando-a à mais ínfima insignificância espiritual, a obsessão compulsiva do vazio, do nada, do zero absoluto, só assim consigo dar sentido à minha vida, e à própria essência do estar vivo.

Mantenho-me fiel ao princípio tubular antropomorfizado, a eternização da angústia na consciência da morte.

Não é à toa que as pessoas têm religião, para mitigar essa angústia crónica e primordial, posteriormente exorcizada.

Nós como seres desprovidos de religiosidade, estamos condenados às vicissitudes intemporais da mortalidade.

Não podendo negá-la, só nos resta contemplá-la, ou adorá-la no meu caso, vamos absorver a sua presença de diversas maneiras sensorialmente: na música, na literatura, na imensidão dos grandes espaços quer sejam subaquáticos, ou terrestres, montanhosos ou desérticos.

O niilismo incorpóreo absorto e intransigente, inundou-nos o espírito avassaladoramente, há muito tempo, rendidos ao caos absoluto do relativismo apócrifo vigente.

A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.

Lx, 3-7-2012

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 01/07/2014
Código do texto: T4866234
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