Fragmentos da alma
Não esperava reencontrá-lo... Se assim o soubesse, teria fugido!
Como um animal arisco, assustado e ferido, correndo sem rumo, fugindo da crueldade do frio. Ver-te é o renascer das cinzas de um passado nefasto. Contudo, confesso... Mudaste de fato; o semblante ostenta alguma serenidade, o sorriso nos lábios aparentemente confusos, é discreto; palavras disformes brotam e são abortadas pelo sentimento preso na garganta.
Teus olhos vidrados demonstram arrependimento... Tens saudade!
Neles, encontro vívida, a tal parte de mim que ficou pra trás; vagando em seu poderio, as vias de nossa história.
Estende-me as mãos e recuo com um passo duvidoso...
Se temo o abraço, o laço oculto ou teu jeito peculiar de amar, não sei dizer; a única certeza que carrego é do amor que sobreviveu ao peso de sua ira, contrariando todas as expectativas, resistindo ao sopro do tempo.
Num dado momento, pergunto-me: -O tempo que me ensinou a perdoar, seria capaz de aperfeiçoar a psicopatia camuflada em suas atitudes?
Ah... Bem conheço a resposta, me enganar novamente seria fatal!
O corpo debilitado não dispõe da mesma resistência e a mente me falha, já não posso mais, criar ilusões azuis para esconder desenhos arroxeados.
Novamente fito teu olhar, traduzindo a intensidade por trás do castanho inofensivo em sua lente; percebo o reflexo fulgaz em sua essência, trajando nova roupagem na aparência dócil e enigmática, no entanto, sagaz e tão devastador quanto antes.
Me afasto e me desfaço da ação deste ima doentio... Mergulho na multidão, negando-lhe a chance de me seguir e aprisionar-me em meu sentimento torto.
Tentando sumir pra sempre como a fumaça do cigarro que marcou teus deslizes em minha tez...
Me agarro aos pedaços que restam da alma mutilada e busco refúgio eterno em meu deserto particular.
Christinny Olivier