ESPELHOS EM FUGA
NA MANHÃ DE 28 DE JUNHO DE 2014
Quando publicou o livro de poesia "Espelhos em Fuga", em junho de 1989, há precisos 25 anos, jamais poderia supor que esse título se revelaria tristemente premonitório: a partir da publicação do livro, os seus espelhos, todos os seus espelhos, foram se perdendo, progressivamente, levando com eles o seu rosto, o rosto que carregava o seu nome, o nome que ela reconhecia sem tanta neblina, o nome de uma professora que era feliz no seu ofício, que já renunciara, por escolha, aos outros todos destinos.
Ela publicou um livro: não tinha grandes planos. Só queria publicar seu livro. Se pudesse ter imaginado que ele, esse livro, faria fugir, aos poucos, todos os espelhos, junto com seu rosto...
Pobre professorinha, tão inocente de tudo...que julgava saber o necessário... Pobre ser contemporâneo, tão sem rosto...
Senhor Deus, que destino! Ela não imaginava o poder das palavras. Teve que aprender o poder delas, poder terrível: aprendê-lo nos seus ossos, no seu sangue, na sua alma, na sua vida.
Amigos: cuidai de vossas palavras. Cuidai delas. Com todo o cuidado que vos for possível.