CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ALMA APRENDIZ
Enquanto o meu corpo físico repousa, como se fosse um morto sobre a cama, a minha alma, revestida por meu perispírito, tão suave, desprende-se da prisão carnal, num ensaio diário da transição da morte, à vida verdadeira. Não temo a morte, como muitas pessoas certamente a temem. A morte é tão boa, tão natural... Se ela fosse ruim, ninguém morria; e quando morrem, as almas dos que já morreram, vêm às vezes contar aos que ainda não morreram que é bom morrer, para renascer de novo numa outra vida, que só se a obtém, quando deveras o vaso carnal deixa de existir. Mas a alma preexiste, sobrevive eterna, e é Criação só de Deus! A minha alma agora, fora do vaso corpóreo, olha-o com indiferença; e, com meigo sorriso, levita em perispírito, e logo se surpreende com a leveza do corpo etéreo que sempre a protege. Ainda bem que ela já sabe que o corpo astral jamais morre; que evolui, conforme a sua própria evolução. Mas ainda não está na hora dela se livrar, definitivamente, do cárcere carnal; do peso incômodo da ossatura humana; das provas e expiações na matéria corpórea; da dor carnal e anímica; da útil reencarnação. Não tenha tanto medo da morte, tenha apenas um pouquinho, porque quem morre, cumpre o ato inato de dormir; e é tão terno, tão lindo, ver alguém dormindo!... Então, por que ter medo de alguém que dorme, só porque está morto? Deve ser porque, quem vê o morto dormindo, sabe que o morto não está vivo, está morto, e dormirá pra sempre! Morrer é bom pra alma, pois se livra da prisão e renasce à vida real. Mas se a alma é ruim, se faz o mal e não o bem, será bom pra ela, sair da morte, pra reviver a sua vida noutra vida? Se a alma nunca morre, tanto faz ser boa ou ruim, na morte ela não fica, pois a carne é quem morre. Não é bom ser alma ruim, dentro ou fora da carne; o mal a conduz à treva; e o bem a conduz à luz! Se for assim, quero ser uma alma boa, dessas que sabem ser pacíficas; que sabem viver na luz. Desse modo, luto pra não ser, dessas que só sabem ser egoístas, só sabem ser orgulhosas, só sabem ser odiosas e trevosas. Enquanto o homem carnal dorme, a sua alma vela o seu sono profundo; vela o seu breve repouso; vela o seu ensaio de morte. Na penumbra do quarto, de súbito, outra alma surge num portal luminoso; e, com gestos angélicos, pede-me que a acompanhe; De mãos dadas voamos na noite, que parecia dia, com a sua claridade infinita; visitamos as luas, os sóis, as estrelas, os cometas, os astros luminosos e os iluminados; depois, visitamos inúmeras almas; as inferiores, as superiores;... Quanto às almas puras, apenas as entrevemos, porque não nos fora permitido chegar perto delas; nem Jesus eu pude entrever; também, como podia entrevê-lo?, com a minha alma ainda impura; mas do seu reino celestial puro, certamente ele me abençoou, como abençoa a todos nós, em todos os dias das nossas vidas carnais e espirituais. Essa alma tão fraterna, que me levou a passeio em tão claridade noturna pela imensidão do Cosmos, já é uma alma evoluída. Junto dela, nessas poucas horas de lazer espiritual, pude vislumbrar o porvir de amor e pureza moral da vida espiritual infinita, ao alcance das almas que pretendem levar a sério os ensinamentos morais de Jesus. Assim, a minha alma aprendiz sentiu-se muito feliz; uma felicidade paradisíaca! Não queria mais voltar à minha prisão carnal; mas a alma fraterna, tão paciente, disse-me que ainda não era hora de deixar o vaso carnal, tampouco, desfrutar do paraíso da vida celestial eterna; e, tão amorosa, tão generosa, e tão angélica, guiou-me ao meu corpo físico, que, ainda um tanto sonolento, entretanto, já revelava claros sinais que ia acordar!