JORNAL DE ONTEM, NOTÍCIA DE HOJE
Indiferente como a tumba fria
A lápide discrimina
E anula a energia
O carro da polícia
Socorre
Transmite medo
Causa euforia
A pedra tumular
Na outra esquina
Vai te submeter
Atropelar
O pó da ira
E da melancolia
Põe um freio em tua fé
E poda a plantinha do homem
Que sonhaste ser um dia
Do outro lado da cidade
Vem uma notícia
Embrulhada no jornal
Do dia anterior
Na manchete uma tragédia
O sangue vira uma pasta
Se transforma em comédia
E empapa o cobertor
Semeia o frio
No mesmo pano
Que à noite
Foi em busca de calor
Na mesma marquise
Em que dormia
E curava com o pó
A desventura da noite
Que nunca chega a ser dia
Jogado pela sarjeta
Do banco que o assaltou
O homem de gravata
Que chamaste de doutor
Mostra um código penal
Uma sílaba da lei
Cortante como um punhal
Vai, se vira
Foge, negro
Apanha o velho jornal
Agora o último recurso
É preparar o funeral.