JORNAL DE ONTEM, NOTÍCIA DE HOJE

Indiferente como a tumba fria

A lápide discrimina

E anula a energia

O carro da polícia

Socorre

Transmite medo

Causa euforia

A pedra tumular

Na outra esquina

Vai te submeter

Atropelar

O pó da ira

E da melancolia

Põe um freio em tua fé

E poda a plantinha do homem

Que sonhaste ser um dia

Do outro lado da cidade

Vem uma notícia

Embrulhada no jornal

Do dia anterior

Na manchete uma tragédia

O sangue vira uma pasta

Se transforma em comédia

E empapa o cobertor

Semeia o frio

No mesmo pano

Que à noite

Foi em busca de calor

Na mesma marquise

Em que dormia

E curava com o pó

A desventura da noite

Que nunca chega a ser dia

Jogado pela sarjeta

Do banco que o assaltou

O homem de gravata

Que chamaste de doutor

Mostra um código penal

Uma sílaba da lei

Cortante como um punhal

Vai, se vira

Foge, negro

Apanha o velho jornal

Agora o último recurso

É preparar o funeral.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 27/06/2014
Código do texto: T4860550
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