Anacronia

"Antes as coisas eram diferentes". Tirando esta frase, tudo era diferente, tudo mudou.

O velho cristaliza o passado olhando-se no espelho e recordando a buzina do sorveteiro que alegrava as tardes de sua infância.

Na cadeira de balanço vazia ao seu lado, nem mais os chinelos de sua companheira. Apenas os retratos em uma cômoda.

Mal sabe este pobre velhinho que, sai noite e entra dia, as ruas são sempre as mesmas, embora os pés que por ali passem não os sejam. Os que espiam as ruas pela janela é que envelhecem, e não há sorveteiro novo que rompa tanta anacronia.

Os costumes são sempre estranhos, os jovens são sempre a perdição de um mundo que, supostamente, um dia será salvo. "Também a moral é uma questão de tempo", dizia a maliciosa Rosa Carbacas de García Marquez.

- Fui eu que envelheci, meu Deus? Ou foi este mundo que envelheceu?