EXPIAÇÃO NO MANGUE

Por entre as raízes do mangue,

um espírito ainda está preso

ao que resta do seu corpo carnal;

uma ossatura lamacenta,

que serve de morada aos caranguejos,

que, ao mesmo tempo, se nutrem dos ossos,

quebrando-os com as suas puãs afiadas;

e, nos buracos dos ossos, os vermes

procriam a sua espécie repugnante.

No mangue, esse espírito desencarnou,

picado por uma cobra,

cujo veneno ainda escorre

por entre as falhas do esqueleto,

e pelas paredes do corpo espiritual,

que também está cheio de impurezas,

adquiridas em suas vidas anteriores,

vivendo na marginalidade da vida mundana.

Ai Jesus!, tem piedade desse espírito,

que pensa que ainda possui o seu corpo carnal.

Ai Jesus!, estende as suas mãos divinas

para que esse espírito

possa sair do lamaçal em que se encontra.

E o perispírito impuro, num esforço inútil,

ergue as mãos espirituais sujas,

e os caranguejos mordem-nas,

e o espírito as recolhe sangrando

para o fundo do mangue.

Para esse espírito inferior,

o fundo do mangue

é o seu umbral lamacento,

a sua treva imunda,

a sua expiação sobre-existencial,

que lhe corrói a essência espiritual.

Para esse espírito inferior,

os teus olhos perispirituais

estão cegos para a luz esplêndida

que ilumina a espiritualidade.

E o esqueleto se enlameia,

e os vermes nos buracos dos ossos se enlameiam,

e os caranguejos se enlameiam,

e o perispírito se enlameia,

e o espírito obscurecido,

expia no mangue lamacento:

à espera que Deus Misericordioso,

possa socorre-lo e retirá-lo

do manguezal umbralino.

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 25/06/2014
Código do texto: T4857713
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