EXPIAÇÃO NO MANGUE
Por entre as raízes do mangue,
um espírito ainda está preso
ao que resta do seu corpo carnal;
uma ossatura lamacenta,
que serve de morada aos caranguejos,
que, ao mesmo tempo, se nutrem dos ossos,
quebrando-os com as suas puãs afiadas;
e, nos buracos dos ossos, os vermes
procriam a sua espécie repugnante.
No mangue, esse espírito desencarnou,
picado por uma cobra,
cujo veneno ainda escorre
por entre as falhas do esqueleto,
e pelas paredes do corpo espiritual,
que também está cheio de impurezas,
adquiridas em suas vidas anteriores,
vivendo na marginalidade da vida mundana.
Ai Jesus!, tem piedade desse espírito,
que pensa que ainda possui o seu corpo carnal.
Ai Jesus!, estende as suas mãos divinas
para que esse espírito
possa sair do lamaçal em que se encontra.
E o perispírito impuro, num esforço inútil,
ergue as mãos espirituais sujas,
e os caranguejos mordem-nas,
e o espírito as recolhe sangrando
para o fundo do mangue.
Para esse espírito inferior,
o fundo do mangue
é o seu umbral lamacento,
a sua treva imunda,
a sua expiação sobre-existencial,
que lhe corrói a essência espiritual.
Para esse espírito inferior,
os teus olhos perispirituais
estão cegos para a luz esplêndida
que ilumina a espiritualidade.
E o esqueleto se enlameia,
e os vermes nos buracos dos ossos se enlameiam,
e os caranguejos se enlameiam,
e o perispírito se enlameia,
e o espírito obscurecido,
expia no mangue lamacento:
à espera que Deus Misericordioso,
possa socorre-lo e retirá-lo
do manguezal umbralino.