Meu Destino
Cansaço.
Sinto em mim todo tipo de cansaço.
Minha alma queima,
Como castigo dos quem amam demais
Sensibilizam demais
Num coração já sem espaço
Para colher demasiadas desilusões.
Toda a tristeza que encontro,
Eu carrego
E dentro de mim, um oceano se faz
Cheio de dores e revoltas
E os meus bons sentimentos
São torturados
Viram pesos,
Desolados.
Sinto a solidão nas belas flores em seus jardins sem cor
Enxergo a melancolia nas nuvens carregadas de tristeza
Então percebo o desprezo de Deus por nós.
Vejo o Caos andando lentamente ao nosso lado
Sinto o Fim roubando a inocência de nossas crianças
Entrelaçadas em nós.
E sinto solitariamente toda a dor de enxergar
E de sentir a tristeza sem cura
De mergulhar num mar cheio de almas sombrias
Suplicando por amor nesta eterna agonia.
Vejo, enxergo, sinto e padeço
De toda indiferença que cultuamos
Enquanto esbarramos num mendigo,
Nesse individualismo perverso
Desumano e cruel.
Estamos sangrando
totalmente perdidos
Sofrendo em círculos viciosos
Sem saber enxergar o passado
Para podermos mudar o presente
Que será o futuro de amanhã.
Mas tudo que nos importa é o nosso narcisismo
Nossa barriga reta
Nosso corpo objetificado
A última tendência
Ou a moral imoral dos santos perdidos
Nossa consciência sem consciência
E para amenizar a consequência
Que grita em nossos ouvidos
Que somos canibais num sistema selvagem
Tomamos todos os dias
Os nossos antidepressivos.
Estamos todos exaustos
Da fé que nos cega
Da esperança que nunca chega
Das falsas promessas
Políticas e amorosas.
Cansados de termos horas contadas para tudo
E na angústia coletiva,
Esperamos encontrar essa tão falada felicidade
Que só existe nas propagandas de margarina.
O tempo é o pior inimigo
Que nos aprisiona por aquilo que escolhemos
E não pelo que ele que escolheu.
Como nas propagandas de carros
Temos que ser velozes e nunca fracassar
Temos que virtuar a vaidade
Objetificar ao máximo o nosso corpo
Afim de agradar esteticamente os olhos alheios
Despertando toda verossimilade em nós
Enquanto dormimos sozinhos
abraçando o travesseiro.
Prostitutos do nosso espírito,
Nos tornamos.
Comerciantes dos nossos sonhos,
Infelizes somos.
Vendendo a nossa alma,
Prisioneiros nos tornamos aos olhos de estranhos.
Em ideais, nos frustramos
Na prática, falhamos
Direitista ou esquerdista?
Integridade ou divíduo?
Riqueza ou simplicidade?
Ética ou ?
Não existe meio termo
Somos oito e oitenta
Bem ou mal
Amigo ou inimigo
Valores tão antigos que ainda silenciam nossas vozes
Através da instituição da hipocrisia
Da falta de ética e do cinismo.
Somos perseguidos violentamente
Pelas propagandas na televisão
Pela publicidade nos emails, sites e celulares.
Reféns somos do Capital que escolhemos todos os dias:
A competitividade desmedida
A indiferença injetada dia-a-dia
A fé introjetada que nos rouba a capacidade crítica
E a verdade repleta de mortais mentiras.
O outro é um mero corpo
Vida zoé
Homo sacer
E está condenado à luz divina.
Quem está ao nosso lado é uma ameaça
E eu sou uma ameaça pra esta pessoa
E nos esbarrando ou tropeçando num corpo de um mendigo
Nada sentimos.
Os nossos sentimentos estão congelados.
Então, todas as tristezas do mundo eu carrego
E só,
Sem chance de deus para me salvar
Sem chance de me defender da dor atroz
Que me mata por dentro o dia inteiro.
Das plantas aos animais
Carrego uma beleza triste
Eu sinto dor
Quando vejo um passarinho preso numa gaiola
querendo voar.
Dor que me esmaga o coração
Entorpece o espírito e o corpo
Me paralisa
E eu caio pra sempre
Neste chão sem fundo
Onde tudo é sombrio e escuro.
Dor que nem a minha mente suporta
E que muitas vezes adoece
E a alma teimosa busca incessantemente
Uma cura para esta loucura interminente.
Estamos entregues ao acaso
Com todo tipo de descaso.
Cansado,
E aterrorizado por tudo que enxergo
Por tudo que vejo
Eu não consigo fechar os olhos
Estamos abandonados no fundo do oceano há tempos.
Sem chance de voltar à superfície
E de viver a nossa mesmice
A nossa amável vida medíocre
Que nos faz naufragar enquanto respiramos
E não podemos esperar por resgate
Pois a categoria está em greve.
Mente perturbada,
Irrequieta
Não se cansa de maltratar o meu frágil ego
Que até hoje sobrevive através do meu alterego
Senão adormeço em minha insanidade para sempre
E não volto mais.
Cansado de saber
Que de mentiras a economia enriquece o nosso Estado
Em detrimento do nosso estado
Físico e psíquico
Então, após alguns anos de servidão e de escravidão
Somos enterrados
Sem sonhos,
Sem nada ter alcançado.
Além de mentiras planejadas estrategicamente
Para nos aniquilarmos.
Cansado estou,
De viver
De existir,
De enxergar tudo
De sentir,
De ser.
A alegria virá pela manhã
Dizem-me quando estou triste
E descrente de qualquer religião
Eu me deito com os fantasmas do passado
E desapareço com as sombras do presente.
A angústia é a presença de um vazio constante
De um desejo não saciado permanentemente
Então essa é a minha vida
Um “não” bem grande estampado em minha testa
Marcada de sangue de inocentes.
Amanheceu?
Cadê a alegria?
Promessas não me alegram
Nem demagogias.
O meu futuro é a semente que eu planto hoje
O meu destino eu colherei assim que a semente crescer
Mas isso não depende de mim
Depende do quanto estamos abertos para nos conhecermos
E pararmos de nos ignorar em nome do consumismo doentio
E pararmos para ouvir os nossos corações
As angústias de nossos espíritos
A aflição constante da alma
Que vive em suplício.
Todas as idéias e crenças que nos chegam
Têm de ser vigiados
Porque serão abrigados em nossas mentes
E farão moradas em nossos pensamentos
Tornando-nos cada vez mais obsessivos
Compulsivos e autodestrutivos.
A vida corre rapidamente com o tempo
E vai levando tudo consigo
É preciso deixar tudo partir
Deixar tudo correr
Percorrer seu caminho
Para cada um encontrar o seu destino.
Não me digam que o amanhã a Deus pertence
O meu destino está em minhas mãos
O futuro é uma grande ilusão.
Em meus pés cansados
De tanto caminhar
De tanto andar por caminhos escuros e cheios de espinhos
Irá de encontrar o seu lugar nesse mundinho
Cheio de rostinhos enfeitados para me enganar
Cheio de armadilhas para extrair de mim,
De toda a energia que ainda me resta em meu espírito.
O fracasso poderá bater-me a porta
Partindo minha alma ao meio
Mas aceitá-lo-ei com honra e paz
De quem foi íntegro em seu mais profundo íntimo.
A vaidade,
Fútil e pérfida
Tentará perfurar o meu ego
Ferir o meu fraco e frágil coração
Já há tanto tempo torturado
Desde o primeiro suspirar
Até o seu último e derradeiro fraquejar.
A minha porta estará sempre aberta
Aceitarei as conseqüências dos meus atos
E mesmo que o meu ego por vezes, resistente e teimoso hesite
Eu enfrentarei tudo que vier de peito aberto.
Da vida que é o tempo da nossa morte
Eu quero pagar todos os meus erros
Mesmo que eu caia em lama suja de merda
Eu aceitarei com dignidade e auto-respeito.
Na vida temos que arriscar
Do medo temos que ter medo
Pois o medo paralisa
E você não sai do lugar.
Em minha existência
Que presa está neste mero corpo
Eu entreguei os meus sonhos ao Universo.
Dar-se-á certo, não sei
Só sei que fiel a mim, serei.
E que venham os resultados
Eu os aceitarei desde aplausos a vaias
Aquilo que tanto sonhei.
Pobre garoto sonhador!
Romântico és por natureza
Por isso sofre mais que os outros.
Digo-lhe: cuidado com o mundo
Ele te engolirá em dois segundos
Se você não se preparar para a guerra que terá de enfrentar.
Os sonhos neste mundo não são bem vindos
E tudo que você poderá contar
É com você mesmo
E sua fé.
Fé em si e crença em seu destino.
Não se deixes parar por medos, inseguranças
Neuroses e traumas de infância
O que é seu é seu
Toma-te para si o teu caminho
E percorra-o sorrindo
Pois ninguém pode lhe tirar o brilho que carregas em tua alma
Ninguém pode lhe tirar os teus sonhos amigo,
Estes sim, são os temperos que dão sabor a vida.
Sem eles, nada disso tudo faria algum sentido.
Ser pobre já é um castigo
É ter um futuro pré-destinado a pena de morte do Estado
É ter o caminho escurecido por tiros nos morros
Enquanto você segue seus passos em seus sonhos dormindo.
Ser pobre e sonhador é padecer no inferno
É lutar contra os próprios monstros
Que diariamente tentam nos devorar
Nos roubar a sanidade
Jogando-nos na pior lama de nós mesmos.
De suas imaginações tão frágeis à sua realidade
Segues,
Com os teus sonhos escondidos em suas pequenas mãos de criança
Cheias de esperanças
Num mundo que trilha o seu caminho à desesperança
Carrega-os como uma pedra sagrada
Muito sensível
Se quebrada,
Jamais será restaurada.
E lembre-se pobre menino,
Esse é o golpe do Estado.
Meu ego,
Fraco e entorpecido de dor
Anestesiado minimamente com drogas do “bem estar”
Me arrasta para o iminente fim.
E de volta ao pó,
Após queimar-me tanto em pesadelos e agonias até os ossos
Eu ressurjo das cinzas
Como uma fênix que volta mais forte.
Porém mais triste.
Pobre garoto do gueto,
Delira-se para não enlouquecer em seus abismos de dores
De espíritos obsessivos e fantasmas carniceiros.
Estes estão sempre contigo,
Maltratando e esmagando o seu miserável e fraco espírito
Mas ele insiste em não ouvi-los
E mesmo caindo,
Caminhando em passos lentos,
Segue na luz do seu destino.
Ele não quer concretizar os seus medos
Na infância, ele não podia escolher
E se escondeu
Para não morrer.
Agora um pouco mais resistente
Tenta não enlouquecer
Com essas vozes que o perturbam aqui e ali
Distraindo-o de seu caminho
Só para derrotá-lo em sua maior fraqueza:
O medo.
Vivendo solitariamente em seu mundo secreto
Cheios de segredos e verdades incertas
Ele se cansa e cai,
Imergindo em seu oceano cheio de lágrimas congeladas por um sistema social injusto
Que salgam seu rosto,
Sua realidade,
Sua visão de um bom horizonte
Onde suas lágrimas cessarão
E o oceano será quente
E o sol brilhará constantemente
Queimando suas lágrimas cansadas e velhas
De tanto viver em seu rosto cheio de marcas
Cheio de expressões de tristezas
Em seus olhos pesados
De tanto enxergar o lado verdadeiro de nossa História.
Cansado,
O menino pobre sofre quieto e paralisado
A beleza da Natureza parece invisível
A energia do Universo parece ter o abandonado.
Neste quarto escuro
Onde ele esconde seus medos mais obscuros.
Ele está recolhido,
Em sua crise depressiva ele teme perder sua sanidade
Teme ser o seu fim
Teme morrer sem antes cumprir sua missão neste Universo Perdido.
Ao acordar deste pesadelo,
Ele avista o sol de sua janela
Brilhando em seus lençóis velhos e remendados
Aquecendo-o como sempre o faz o belo Sol
E aliviado deste terror
Ele agradece por estar vivo e poder recomeçar tudo outra vez.
Viver é resistir
É tentar até não poder
É insistir até quando não se tem vontade
É enxergar aquilo que ainda não se pode ver
Mas que nos conforta o coração
E os pensamentos.
Para que no fim
Saboreemos o gosto de não termos sidos derrotados
Pelo sistema desigual e desumano
Onde todos se encontram fracos e perdidos
Cansados e oprimidos.
Seja pela pobreza
Seja pela ignorância alheia
Seja por qualquer preconceito
Seja pela companhia diária da tristeza.
Devíamos ser como as crianças
Que na chuva em vez de se lamentar
Brincam e dançam
Enquanto as gotas caem sobre suas cabeças
E sem medo, elas sorriem e cantam.
Devíamos estar vitalizados
E não cansados
Pois o que nos rouba a força
É a força que está concentrada no Poder
E de corpo em corpo, ele se fortalece
Para que sejamos miseráveis em busca de ideais que nos empobrecem
Tornando-nos miseráveis em nossas existências
Que de tanto sentir as injustiças, estão todas na UTI de nossa essência.
E sem força,
Sem crença
No pessimismo que nos inocenta
Colocamos a culpa nos outros
E não aceitamos os pesos e as conseqüências
De nossas escolhas já há muito tempo feitas.
E vitimizando nossos egos
Destruímos o que há de melhor em nós:
A consciência
Que se despertada e lapidada para o bem
Podem nos trazer imensas riquezas
Como a paz, a ética, a nobreza no caráter
O amor por excelência.
Então já não me sinto mais cansado,
Estou revitalizado em minha crença
De que minha parte está sendo feita
E que de semente em semente
Eu vou plantar gigantes árvores de amor e beleza
Que nos abriguem nos dias de frio e de solidão
Neste mundo perdido e sem solução.
Este é o meu destino.