NOBILÍSSIMA SENHORA DO MEU DESTINO

Senhora do meu destino

Eis que em tuas mãos

Meu corpo entrego sem desatino

Rubra face em totem transformada,

não pode, nem candeeiro torná-la iluminada.

A ditosa saudade infinda sentida

Jaz sob a luz sepulcral o corpo inerte

Quem dela padece, igual caminho transita

mesmo se de avançada idade ou imberbe

Lírica a manhã branca nasce

Herdeira da noite dos amantes, Cúmplices

são as palavras ditas semeadas à saliva

Não pode nem a lua lá do alto ser mais altiva

E a senhora, atenta a tudo que derredor passa,

guia de náufragos do mar em procela,

Recebe nos braços protetores seres entregues ao destino incerto

E eis que já sob caloroso abraço; nada temem,

Seguem sem medo e de peito aberto.

Que da existência, parcas foram as vitórias,

não podes, em igual desatino incorrer,

Do que disse em demasia logo esquecer

Eis que de extremos se diz o mentor, Condena-se

aquele que aos brados canta a vitória que de Pirro será.

E, então nessa estrada a todos estendida

Justo é aquele que caminha em linha reta

Posto que se lhe permita paragem

A ditosa caminhada não lhe enfraquece a coragem.

Eis, que a montanha o grande mestre escala

Pode aluviar a mente dos que lhe dão ouvidos,

Contar o que a existência permitiu sem ruídos.

E sendo a vereda da vida um campo desconhecido,

percorre-la, requer astúcia e olhos atentos,

Um arbusto pode ocultar o bote da fera,

e ao chão lançar ainda rebentos.

Da alquebranda contenda

Um corpo à terra deita,

Inerte, rígido; feito oferenda

o tempo a consumi-lo sem deferência,

o pobre vivente se vai em miasma

seres invisíveis consome aquela massa

Posto que sem às mãos a espada nada é

Ludmila, a sílfide por benfazejos impudicos rapazotes,

Em tudo cortejada, não se cansa de à espreita olhar

Aquele a quem tantos horror causa.

Quem sabe pode donzela mais que amada,

olhar a alma dos viventes, Porque

não honrados com a fortuna,

pode ela com olhar meigo e taciturno

Levar à cova a alma cega e moribunda.

E chegada a noite cuja cama a coruja deita, Calma

e em tudo a única testemunha,

em silencioso canto, A noite a faz

companhia de almas moribundas.

Como nessa vida nada dura mais que o próprio tempo,

A noite cede à Aurora sua majestosa coroa; surge o dia

Em tudo mais que desejado pelo que trás de requinte.

Jaz n'alma lembranças outrora cultivada

A sílfide em desfile e amada,

Nada lhe pesa mais que a desairosa vendeta

Alimentada desde o dia em que o primogênito

Com traição ao trono ascendeu,

Selou a todos com a morte violenta.

E a casa protegida por arqueiros dos mais virtuosos

Não resistiu aos ataques de aliados temporários,

Pois, eis que lição melhor não há,

Não se deve confiar em exército de mercenários.

E o preço a que se paga por préstimos duvidosos,

levou reinos ao trágico poço do esquecimento.

Porém, mesmo que o preço a que se deve tamanha ofensa,

Seja em ouro ou mesmo do mais precioso diamante, Fato é

Que dívida assim contraída

Não se paga em espécie, mas com a própria vida.

E se de alvíssaras notícias não és a portadora,

Bem faz a ditosa senhora conter às más em tranca.

Posto que recairá sobre quem delas se ocupa,

Maldizeres mesmo que não tenha culpa.

E a pudica donzela que passeia sem desconfiança, Poderá

Ser ela o alvo da flecha que outro era a mira.

E aquele que sua vida entregou à Senhora,

Chegado seu dia não poderá negar os caminhos percorridos,

E sendo a soma em tudo igual a zero, Saberá

que os deuses em tudo foram companheiros,

juros não há, apenas tempos vividos.

E a Senhora, companhia de toda a vida, Levará

em seus braços aquele que a tinha mais querida.