INSPIRAÇÃO NOTURNA
Tenho o hábito saudável de sentar-me à noite
na porta de minha casa, para sentir abstraído
a brisa deliciosa que vem da mata atlântica;
e, quase sempre, me ocorre algum lampejo
de inspiração, que me estimula a compor
versos pelo simples costume de não me separar
da arte genuína de escrever. Mesmo pensando,
sem está digitando o que penso, as ideias brotam
como se já as soubesse que teriam que nascer
tão sensíveis da imaginação criadora do artista.
Nesse instante mágico de inspiração noturna,
o meu pensamento se ilumina da beleza pensante
divina; e o fazer poético, copioso como o manancial
perene, flui como seiva de planta orvalhada na noite
sedutora dos casais enamorados sob a luz do luar.
Sinto que flutuo no êxtase fluídico da consciência
elevada, desdobrando-se momentânea do meu
corpo físico, cujo mérito é de ser apenas um mero
instrumento de trabalho do meu espírito criativo.
Sinto que o meu pensar penetra profundo nas coisas
que transcendem à vivência habitual da vida carnal.
Sinto-me desperto na noite habitada por hostes
espirituais luminosas, que banham-se em cristalinos
balneários campesinos rodeados por floras angelicais.
Como se tivesse triste por irreversível cegueira carnal,
sou contemplado com a maravilha da visão espiritual;
em meio a ambiência iluminada por lindos sóis estrelares
noturnos, na transparência natural da unidade cósmica
celestial; ademais, sinto-me renascido no ensaio de minha vida
espiritual; numa simulação de morte de minha vida carnal.
Ih! Só agora, que tenciono findar o poema, percebo está
sentado em minha cadeira preferida à porta de minha
casa, na solidão da noite avançada, cujo vento frio varre,
tão inquieto, a rua já deserta de gente recolhida no interior
dos lares. Retomo a visão carnal e observo a presença amiga
do meu gato se mexendo e se lambendo em meu colo, que,
subitamente, pula dele e adentra na casa, sugerindo-me
que também me recolha ao aconchego do recinto doméstico.
Um tanto ainda em transe poético, retorno à realidade
imediata da vida carnal. Enquanto o meu gato sai pela porta
do fundo da casa, para distrair-se em suas andanças
na frialdade da noite, só me resta a opção pelo sono
restaurador, após iniciá-lo sentado na cadeira à porta
da casa, quando a noite principiava e a minha inspiração
se delineava na elaboração de imagens oníricas, para compor
este clarisentido lírico poema prosaico que agora chega ao fim.