MURALHA DA CHINA-A Hull de la Fuente

No início da madrugada de 10 de junho de 2014

Texto de 2010

Um dia desses sonhei que atravessava a Muralha da China. Como nos sonhos moldamos as cenas e as condições a nosso bel prazer, eu atravessava sozinha a Muralha da China, que no meu sonho não se parecia, em absoluto, com a Rua Direita ou com o metrô da Sé nos horários de pico (quem mora na capital de São Paulo sabe do que falo; quem não mora, procure imaginar). Era uma Muralha da China anterior a Globalização, este monstro de milhares de cabeças que ainda irá derrubá-la, a Muralha, e fragmentá-la em infinitos pedaços, para vendê-la, aos pedacinhos, para os turistas, como recordação.

Não: a muralha do meu sonho não era a muralha apinhada de gente, a do meu sonho era uma muralha da China só minha, inteirinha só para mim. Nem tu, meu amor, estavas comigo lá.

Ninguém mais a atravessar comigo a muralha da China do meu sonho, a muralha fora do tempo, a muralha fora do mundo, a muralha da China só minha, só para mim.

Abraço grande, amiga.

REPUBLICAÇÃO.