QUANDO PARTIR É NECESSÁRIO
Tinha a relva a lhe molhar os pés,
a lua a lhe iluminar os passos
e seguia adiante.
A dor no peito cada vez maior
não lhe deixava esquecer
a realidade.
O barulho da água já se fazia presente.
Sabia que havia o rio ali à frente.
Uma cigarra entoava triste seu canto
e lá, bem além, o grasnar de uma ave
despertava-lhe a consciência.
Como haveria de ser?
Olhava os campos em volta
a perder de vista.
O cheiro de capim, adocicado,
impregnando-lhe as narinas.
Estava indo embora, deixando tudo para trás.
O atrás que nem queria olhar.
Bastava-lhe saber que pela frente
havia vida a ser vivida.
Todos se vão um dia.
Chegara o seu momento.
Estava se libertando de amarras
que deixam fundas cicatrizes.
Mas estava em paz,
apesar da dor no peito.
Se partir era o melhor,
só o tempo responderia.
A escolha tinha sido sua.
Acertou a mochila nas costas,
desceu até o rio, entrou na canoa,
ganhou a imensidão das águas
e seguiu em frente,
em busca do amanhã!