Não sei.

Eu não sei se já amei. Talvez pelo fato de amor ser inefável, ou por ignorância mesmo. É, eu fico às vezes pensando... como alguém sabe se ama? Amar não se define... e se não se define, como não confundir? Se eu nunca senti, como vou saber que é quando acontecer? Se é tão íntimo, como os outros me ajudarão a descobrir? Ninguém sabe do interior de ninguém, por mais que tente...

Não sei se já amei. Mas se o que senti durante estes longos seis últimos anos da minha vida foi amor, eu não quero amar assim nunca mais. É, aquela necessidade, aquele afeto que nós mantemos sem nem mesmo esperar correspondência, aquele súbito desejo de guardar-se apenas para aquela determinada pessoa, os sofrimentos, mágoas e ressentimentos sobre os quais passamos por cima, a eterna capacidade de perdoar, a vontade de estar sempre ao lado de alguém - mesmo sabendo não ser bem-vindo lá, as tentativas de esquecer sempre frustradas por alguma lembrança danada que insiste em surgir de repente - naquela hora em que menos imaginávamos - e fazer o humor despencar.

Não sei se já amei. Mas todas as vezes em que me pego sonhando, ou quando tenho daquelas reminiscências românticas, fico dividida entre mim e ele. É... eu por muito tempo esqueci o que era amor próprio. E, depois de tanto tempo tentando recuperá-lo, utilizando para isso todos os métodos possíveis, achei que estivesse realmente cura. É, acreditei que o tempo curasse todas as mágoas e apagasse as vontades do passado. Mas não! Descobri (e tenho todos os dias motivos novos para acreditar) que não passou. Está tudo aqui dentro, tudo guardado e quentinho ainda, esperando uma chance para acontecer. Como? Por quê? Não faz nenhum sentido pra mim.

Não sei se já amei... mas algum trauma me ficou após toda essa história que vivi. Não faço idéia do que ela foi - nem ao menos se ainda é. Mas acho que estou ainda de braços abertos para tudo aquilo que já descobri me fazer mal. Por que esta insistência no sofrimento? Por que o emocional insiste em não obedecer ao racional? Tenho às vezes a impressão de que isso é eterno. Será que é feitiço? Não consigo abrir mão dessas lembranças nem dos sentimentos, da palpitação acelerada ao ouvir aquele nome, do ódio de algumas lembranças ruins que fazem-me sentir ainda mais idiota apenas por saber que estou amando. Amando? Não sei, não sei se já amei.

A única coisa que sei é que preciso entender tudo isso, e rápido. Como descobrir o que me impede de aceitar outras pessoas? Como entender minha necessidade de ficar sempre sozinha - exceto quando penso nele? Como desvendar o porque dessa exclusividade que ele tem comigo? Não sei... mas tenho medo. Medo porque não quero sentir isso nunca mais por ninguém - nem mesmo por ele (embora não o consiga esquecer!). Medso porque uma vez li algo de Bukowsky que dizia que existem coisas piores que estar só, mas normalmente levamos décadas para percebermos isso e quando percebemos é tarde demais e nada pior que tarde demais. Eu não odeio estar só, pelo contrário, anseio por isto... Parece que há algo que me afasta de pessoas, parece haver nele alguma magia que me faz sentir como se fosse o único com quem posso me unir. Não sei, não sei se já amei. Mas se isso for amor, amar dói. E eu não queria amar assim.

Nica
Enviado por Nica em 10/05/2007
Código do texto: T482082
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