AH, POESIA!
Ah, poesia!
Se ainda és minha, por que escapas,
então, das minhas mãos,
assim tão depressa, tão insensata,
como se de mim não dependesse
para ser criada? Como os filhos,
cujas mães dedicadas, os criam
com tamanho carinho,
para serem no porvir cidadãos
virtuosos; mas tão céleres,
eles se acham maduros antes
do tempo natural; como uma
fruta verde, colhida antes
que amadurecesse
na intimidade silenciosa
da noite presenteada,
com o clarão esplendoroso
do luar; e vais assim, poesia,
escapando sorrateira das minhas
mãos tão poéticas; sem preocupar-se
com o apuro formal de quem
a compõe; fluindo como um rio
caudaloso por entre a floresta
espessa; avançando enfurecido
à sua foz, para expelir em clímax
o doce líquido, misturando-se
prazerosamente com as águas
salgadas do mar. Ah, poesia!
Por que foges assim, de sua própria
criação, como se não sentisse
satisfação em ser criada?
Como algumas mulheres insensíveis
ao ato nobre de dar à luz,
que durante a gestação, decidem
expelir o feto em formação;
mas deves sim, poesia, esperar
com abnegada resignação,
a sua criação poética gradual;
porque antes de aconchegar-se
em minhas mãos, bem sabes
que ainda és nascitura na fonte
criadora consciente; e dela deves
nutrir-se dos fragmentos
das palavras versejadas livremente,
para que depois possas desabrochar
tão graciosa quanto à flor,
que exala na amena manhã
primaveril, oriundo dos jardins
urbanos ou dos campos
silvestres, tão suave aroma,
que te enche da singeleza lírica,
que te faz merecedora em ser
uma autêntica poesia; composta
pelo poeta que agora, já se despedes
de ti; porque agora sim, já podes
ir, poesia; decerto, já não posso
mais insistir em ter-te; visto que,
a inspiração em compor-te
chegou ao fim; enfim, pertences
agora ao leitor, que já te espera
desejoso para ler-te,
ó tão abençoada poesia!