La Nuit et ses prestiges

"Most glorious night!

Thou wert not sent for slumber!"

(LORD BYRON)

Quando minha mente assombra-me a ponto de tirar-me o sono, Scarbô e eu costumamos olhar pela janela de meu quarto, assistindo à heterodoxa peça de teatro escrita pela Lua que é a cidade de noite.

Um grilo toca uma serenata que faz sentido apenas para ele.

Ao longe, ladra um cachorro; acho que tenta defender seus donos de algum perigo imaginário.

Algum notívago imerso em solidão passa rapidamente, tossindo.

Um mendigo todo ensebado, não tirando seu olho triste da Lua (pois era cego do outro olho), canta-lhe canções e declama-lhe versos, chamando-a de sua amada. "Pobre homem", pensei em voz alta.

"Por que te compadeces deste infeliz?", replicou Scarbô, com seu característico riso sarcástico. "Se compadeça de ti mesmo, que ainda haverás de acabar como ele!"

Pensei então em minha amada Astarte que, ignorante de meu amor e do pesar que minha alma encerra, provavelmente dormia a sono solto. E bem no fundo de meu coração, suspeitei que Scarbô estava certo.

E a Lua, encarando-nos de volta, sorria.

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 20/05/2014
Código do texto: T4813315
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.