Estrelas
Está chovendo estrelas no chão. Os corpos que salpicam o céu e inundam o espaço são explosões, mas aos nossos olhos, são vaga-lumes azuis que reluzem sobre a noite. Note uma, note duas, note três, logo não haverá contagens. Vai se perder na própria contemplação, pois nossos olhos passarão pelas mesmas e não saberemos se já contamos aquela ou não. Chato e engraçado. Tão cômico quanto pensar que uma estrela cabe em nossas mãos, que é tão miúda quanto um grão de areia, tão cintilante quanto um grão de purpurina e tão fria quanto uma gota de gelo. É tão impossível contá-las...
Caminhar pela noite é andar a luz das estrelas. Pontos alvos que enfeitam o horizonte e aqui embaixo as luzes são os semáforos e os lampiões. Será que alguém que observa o mundo do espaço sideral, pode ver as luzes das cidades como estrelas na Terra? Talvez... E o certo é que essa pessoa verá um show de babel, pois não serão somente azuis, mas sim de todas as cores, como se um arco-íris tivesse se dissolvido pelas camadas do nosso planeta e se espalhado pela superfície inteira como dentes-de-leão que brilham no escuro. Mas eu ainda estou aqui embaixo, então é melhor contar daqui pra cima do que imaginar de cima-abaixo...
Não se vê estrelas somente no céu, é possível vê-las no olhar. Aquele brilho ínfimo que não se sabe de onde vem e que nos faz ter a certeza de que a alma está se expressando através das íris. Olhos que não brilham, não olham com o coração, só olham com os olhos... E por que será que brilham? Será que as lágrimas refletem uma estrela que ninguém vê? Vai se saber... Pobre de que não vê... Mas o certo é que nossos olhos refletem as lâmpadas celestes que cobrem o céu, mas será que as estrelas refletem o nosso olhar? Acho que não... O mar reflete a lua, mas a lua não reflete o mar...
Se o universo é infinito, as estrelas também são. Se o infinito não é medido pelo tempo e nem pelo espaço, as estrelas também não são. Pois elas podem estar em qualquer lugar e a qualquer hora. Podem estar no céu. Podem estar no mar. Na vida. Na dor. No amor. Na escuridão... Bem, isso é óbvio, se são elas que acendem a noite, como não estariam nas trevas? Na luz... Bem, isso é óbvio também, elas são a própria luz, desculpem... E também estão nos palcos. Essa metáfora veio para o artista brincar que brilha como as próprias estrelas. E por último elas estão no olhar. Sempre estão no céu da noite, mas também pra onde possamos as levar...