Álibi

Há de se tratar este nome, e atribui-se ultraje de quem tende a ter um álibi abjeto ou apenas um aproveito de um momento fortuito. Mas é tão pobre quem espera acontecer para fazer, diferente de quem sonha e espera para ter.

O álibi é o poema da áspide, que rasteja pelo matagal alcatifado, mas sem ruidar sobre as folhas, para que nunca se sinta sua presença e nunca os pés ponham-se a surpreender e frustrar o sonho vil e cupido de quem espera. A língua bifurca da serpente se põe a agitar. A observação flui lisamente com o veneno no olhar.

O álibi mente, mas nunca se deixa a verdade desvanecer pelo ar, pois o sabor da vitória crua só exulta quando existe o conhecimento de que alguma parte foi lesada, mas tudo foi legal, pois o momento ajudou e o destino artificial preparou. Mas, sejamos francos... Quem tem álibi, tem agilidade para fugir na rapacidade, e tem habilidade para despistar a verdade.

Quem tem álibi enxerga lá no escuro e sabe tudo. O momento de agir. O planejamento para fruir. A hora de correr. A presa certa para morder. A oportunidade para falar. A prostração para se calar. A destreza para rastejar. A frieza para negar. A cortesia para aceitar. E as habilidades de um verme para se hospedar fora do hospedeiro, e nunca sentir as mãos sujar pela trapaça de um batoteiro.

Para ter álibi tem de ter espírito. Tem de ter sujeira. Tem de ser ignominioso e não ter pena de passar rasteira. Pois o que é a artimanha senão o sacrifício do sabor da vitória em troca da garantia de um resultado à base da escória? Quem tem álibi nunca vence e nunca vai vencer, apenas convence e tem àquilo que se sonhou, apenas como ferramenta para se entreter.

O conselho desse texto circular é que vale a pena para quem tem álibi, e vale ter pena de quem tem. Porque o que vem antes do tempo, o homem leva embora, e aquilo que o tempo trás, está nas mãos de quem faz à hora. Quem tem verdade, ganha na vontade, e quem tem álibi, ganha na oportunidade. Apenas fica a verdade, se você tem coragem, nunca tenha álibi.