QUANDO CAI A NOITE

11/12/1980

Arrastam-se lentos, alguns passos pela calçada.

No passeio dos olhos: retalhos de céus.

[Ouro e violeta entrelaçados]

Uma estrela!?... A primeira que se vê.

Longínqua , inquieta...Um pingo raso de strass no veludo da escuridão.As dimensões agora pertencem aos vagalumes .

[Segredos de pirilampos vazam de archotes no breu dos silêncios]

Silêncios?...Sim! Cada um a seu modo.

Silêncio das araucárias, silêncio do lago,o silêncio da gruta...

Paz de espírito! Paz da natureza...

[União que resulta em "estado de graça"]

Brisa e sereno unem-se temperando ar.

Inertes no portal da noite,perfilam-se hastes. Vozes ao longe delatam crianças cantarolando.

Alguns passos lentos singram o verde,confusos em esperanças da mesma cor.

Nem mesmo o turbilhão de sentimentos povoando a mente,é capaz de empanar o breve instante de paz estabelecida.

Paz de noite de natal, paz de criança adormecida...

[Aquela que se procura, aquela com que se vive sonhando]

Olhares dispersos vão buscando o infinito.

Magistral ,cai a noite!...

Mistério e poesia, na cumplicidade ,cavalgam alazões pela estrada negra que escorre sobre a cidade.

Alguns passos lentos arrastam-se na calçada,olhares persistem caçando imagens.

Cai a noite sobre o bosque do Seminário.

Cai a noite sobre os homens...Cai a noite por inteiro.

Desajeitado, percebo-me nada além de um vulto entre as hastes tentando arabescos de versos.

Um respirar profundo mascara saudades alheias.

São lembranças tantas!

Daquilo que nunca fiz...Daquele que nunca fui...

Joel Gomes Teixeira