O CONFESSO DAS EMOÇÕES

Dona Poesia, a amásia de tantos anos sempre morre de ciúme dos novos afetos, ainda mais se forem também mulheres sexuadas. Pressente as mais (im)prováveis ameaças ao seu reinado de musa, e se revela, sacando fora a carapaça de proteção. Uma caramuja com sua casa nas costas, arrastando-a lentamente, como acontecia nos tempos de menino, com os animais de fantasia da “tropa de osso” (circulando “entropilhados” no pátio da casa), que um dia o poeta Humberto Gabbi Zanatta, de Santa Maria, registrou nos palcos musicais, fazendo-os memorial de cercado e campo no regionalismo gaúcho. Cada vez mais, a teimosia em tentar redescobrir o mundo e suas mazelas, consome o meu espiritual. Essa humílima condição de homem condenado ao pensar e a dizer aquilo que o aflige ou o transtorna, força da mão doce da eterna arte... Assim, rabisco o quadro que me toma por inteiro: escravo confesso das emoções, sofrendo o laçaço do imaginário látego sobre o torso, a doer, a doer... Em mim, o poema nasce sujinho de sangue, botando a boca no mundo. E o coração taquicardíaco resiste ao primeiro banho, esperneando...

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4807228