A ALMA DAS COISAS

(ENTRE O FRÍVOLO E O EFÊMERO)

Você foi saindo de mim feito água que escapa das mãos e foge pelo ralo para um esgoto.

Poderia ser diferente. Você poderia ter se solidificado ou até mesmo evaporado, mas preferiu escorrer...

Se tivesse evaporado, seria muito mais bonito porque evaporar deixa saudade, e escorrer pelo chão dói.

Ficou no ar a sensação de que você foi incompetente ou não soube fazer-se amar.

Água é algo indispensável em nossa vida. E diante da sede não podemos ser exigentes, bebemos até água suja ou contaminada e depois disso adoecemos ou morremos.

Eu tinha sede. Queria beber. Deixei que invadisse minha vida. Enchi minha vida de tudo que era seu e por ti eu me molhei.

De repente você se diz lama. Que não pode matar minha sede. Penso que foste a fonte errada. Morro de sede e agora tenho medo de beber novamente.

As nuvens nem saem do lugar, porém o vento em minha janela é inclemente na dor. Geme, grita, fala, manda recados e tu apenas foste embora.

Eu me pensei saciado, mas percebo depois do teu “voo” que minha sede voltou. Recolheste tuas asas negras e te foste como se fosses apenas uma imagem refletida no espelho, vendido nas ruas por um ambulante.

De ti ficaram muitas coisas sim. Sempre ficam coisas transparentes, invisíveis. A casa fica cheia delas. As “coisas” têm alma.

Você entrou na minha vida feito uma enxurrada e apenas se posicionou entre o frívolo e o efêmero. Ficou na alma das “coisas” que levou embora e que agora me assombram...

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15.05.14

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 15/05/2014
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