A coroada

O felino passa por mim,

ele sabe que me desperta o medo.

O fogo verde em seus olhos,

me recorda os dela.

Majestoso fragmento da noite;

ele andeja,é o rei dos muros,

senhor dos becos,grande e negro salta à minha sombra e cai de pé.

No subúrbio essa hora deserto pouco se vê,

a não ser os negros que moram em barracos,embaixo de viadutos e pontes,esquecidos pelo governo.

Ignorados por deus.

Esse mesmo deus alienado e cruel que exige amor e sequer está presente,

a não ser pela dor que fazem questão de impor como castigo por simplismente existir.

Em sua terra eram reis,

arrancados do berço vieram ser escravos,mercadoria que ri e chora.

Mas verdadeiramente,quem se importa?

Quem disse que houve independência;abolição,lei do ventre livre...

Tudo que vejo é segregação,é a hipocrisia de fotografar-se com uma banana

quando pensa em ficar popular no momento.

Ser negro no Brasil é viver o apartheid diário dum povo que fecha os olhos pra própria miséria.

Isso me trazem os olhos do gato pois chegamos a derradeira encruzilhada,

o caminho à esquerda foi o seu e sumiu,sobrei eu.

Eu que branco,preferia ser azul ou vermelho,por que não importa a cor e sim quem sou.

Ela surge,seus olhos verdes podem me matar,seu sorriso me entrega o mundo,no seu beijo conquistei o universo.

É a menina,bruxa,mulher,

é a Dama da Noite a coroada que vem ao Elísio me carregar.