O FASCÍNIO

Espero resgatar o fascínio que a espontaneidade produz, a ponto de escrever-se versos por compulsão lírico-amorosa num prosaico invólucro de pão ou num guardanapo de papel. E o Mistério – que é único para cada pessoa – induz o alter ego, excita-nos a fazer o poema e, enfim, manifesta-se compulsivo e em absoluto estado de possessão através dos signos verbais. Esse o desafio: o de ser-se ególatra e poder vir a conviver estes momentos de fraterna libertação pela palavra, à socapa do heterônimo e sua puríssima linguagem reveladora da condição humana, propondo vida e luz ao enfileirado de ideias, na ceia dos inquietos e aflitos. E em ti – que buscas o amar em sua mais pura apresentação – que venham os gestos doces e teus ávidos olhos de leitora e musa. Que o lirismo (vivificado em mim) ainda possa tecer poemas para saudar as duas faces – a do real e a da fantasia – na inocência lírica de requintar o conviver num gole de vinho, tatuando a necessitada pele nos concelebrados rituais do sangue das uvas. Por certo, haverá música nos neurônios perdidos na invernia do decurso do tempo. A doce sutileza de conviver com o sempre novo da eternidade dos sortilégios e os não revelados códigos.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4802591