E se

Eu lhe contasse a verdade?

E se eu contasse tudo? Tudo!

Tudo o que sinto, o que sou... o que finjo ser.

Fecho os olhos e ignoro, como todos os outros. Quero ir em frente como as pessoas normais. Mas algo me impede.

E se eu tirasse essa máscara? Parasse de seguir a fila?

Não quero ser como todo mundo, mas é terrível perceber que estou sozinho.

Ninguém tomará essa dor.

E se eu pulasse? Alguém perceberia?

Perceberia o meu corpo caindo de vinte andares, esse saco de ossos despedaçando-se no chão.

Eles continuariam andando, talvez parassem por alguns segundo e então se voltariam para sempre.

E se eu cortasse meus pulsos?

O sangue escorrendo pelas minhas roupas, pingando no azulejo frio.

Alguém reconheceria aquela cor?

Se eu chorasse, alguém secaria minhas lágrimas?

Quem? Não há ninguém por perto.

Mas eu não choro. Não costumo perder tempo com coisas desnecessárias.

Se eu cair? Ninguém estenderá a mão. Pois quando caio, caio sozinho.

E se eu me despedaçar? Essa casca que parece ferro, mas não passa de porcelana barata.

E se você pudesse ver?

Mas você não pode. Sou invisível.

E se eu arrancasse meu coração?

Esse músculo inquieto palpitando entre meus dedos gelados.

Ainda assim, não pararia de doer.

E se eu não existisse? Ou morresse?

O que aconteceria?

Nada. Absolutamente nada. O mundo continua girando.

As pessoas fazem o que eu não pude. Seguem em frente.

Amanda Nunhofer
Enviado por Amanda Nunhofer em 10/05/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T4801806
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