O diário de Kerouac (Excertos)

“Essa é uma imagem da mente da América

Que não pode ser apagada.”

(Neal Cassady)

“Primeira parte”

Foleio meu diário, vejo datas esquecidas, pessoas que partiram...

Fatos distantes, olho para a estante; lá está ele na vertical...

Rabiscos num espiral, repousando; respirando, vou andando...

Vou acordá-lo! Vou lê-lo, foleá-lo velho caderno de folhas amarelas!

Acabei de escrever um Salmo e me sinto bem! “Chorei por haver tanta riqueza”

Depois de assistir “Na estrada”, pego o “Diário de Jack Kerouac”

Esposa dormindo, um tinto na taça... Consegui resgatar “O primeiro terço”

O inspirador de “On the road” chama-se Neal Cassady, o desbravador de estradas!

Hoje preciso ver seu rosto; ontem escrevi 569, agora são 640 palavras!

Ele também descreveu suas viagens etílicas num velho caderno ácido!

Descreveu seus encontros, muitas garotas na ponta do lápis; ele nunca encontrou o seu pai!

“O filho desnaturado de homens derrotados” que carregava na mochila “No caminho de Swann¹”!

Mas ele nunca foi um garoto desamparado, criado no árido... No árido oeste americano!

N.C. conversou 72 horas sem parar com Ginsberg dizendo-lhe que iria para o sul...

Não vá para o México, não siga a ferrovia! Alertaram-no!

É lá o final da linha... Onde Paradise pegou disenteria!

Aqui se inicia e é lá que termina a última viagem!

Sua última viagem e uma festa de casamento, Moriarty!

* * *

“Segunda parte”

Vendedores de viagens loucas, tinham Proust na mente!

Cirurgiões vagabundos de uma América sedutora e sinistra...

É impossível ensiná-los, pois já sabem o que querem!

É impossível doutrina-los, pois não querem dogmas, regras nem normas!

E sabem de tudo! E sabem demais! Conhecem todas as estradas que ficaram para trás!

Só não sabem o que eu estou tentando fazer!

Só não sabem quantas palavras escrevo por dia!

Só não sabem o que eu estou tentando provar!

Só não sabem que sou um bêbado que tem uma máquina de datilografar!

Sou paciente, sei que o negócio é demorado!

Estou tentando entrar na mente do leitor...

Estou tentando ensinar-lhes como é ser um Beat!

Não levo pudor, no saco de viagem, só me transborda o amor!

O único e verdadeiro amor que é a vida!

*Baseado em: "On the road", 1957 (Jack Kerouac, 1922 - 1969) e em "O primeiro terço", Neal Cassady (08/04/1926 – 04/02/1968).

**Título extraído de “O Diário de Jack Kerouac”, 1947 – 1954.

¹No caminho de Swann, Marcel Proust (1913).

*Jack Kerouac nasceu em 12 de março de 1922 e tornou-se escritor de fôlego narrativo alucinante.

Mas ele não era Sal Paradise de “On the Road”, era Jack Kerouac, cristão, introvertido e observador.

Com o tempo, o vigor deu lugar ao cansaço e o escritor resignou-se a uma vida só e ordinária.

Morreu aos 45 anos de idade de cirrose hepática e foi sepultado no Edson Cemetery no dia 21 de outubro de 1969.

**Neal Cassady foi o rosto da geração Beat. Teve a sua história contada no clássico “On the Road” de Jack Kerouac na forma do personagem Dean Moriarty.

Jack Kerouac abandonou sua amizade quando percebeu que estava ficando velho demais para acompanhar as loucuras de Cassady. Jack Kerouac era um conservador religioso.

O Beat máximo também foi citado por Allen Ginsberg (1926 – 1997) em seu poema clássico: “O uivo” de 1956.

Neal Cassady é considerado o escritor que escreveu “o pior livro Beat”: “O Primeiro Terço”, livro este que é na verdade um diário da infância e adolescência do jovem de Salt Lake City que morou em Denver e vagava errante com seu pai pelas ferrovias da América. Depois que se separou do pai, nunca mais o encontrou.

Morreu no México, bêbado, aos 42 anos de idade, as margens de uma ferrovia após sair de uma festa de casamento.

***”On the Road” foi para as telas do cinema em 2012 pela lente do diretor brasileiro Walter Salles.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 08/05/2014
Reeditado em 08/01/2017
Código do texto: T4799402
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