EM CHAMAS NO CAFÉ LA PLATA
O vento sopra na tarde absoluta de maio.
O café, fumegando, exala vapor de fumaça.
Pequenas nuvens se formam e deslizam
absortas na Avenue des Champs-Elisées.
A poesia está em chamas no Café La Plata
e você está impoluta, absurda, alheia...
sem segredos
sem máscara
e decide ser heterônimo de Fernando Pessoa
ser pseudônimo de suas próprias armadilhas.
Páris furtivo, sob as estrelas de Troia
observa a beleza dos cabelos de Helena.
Em Mitilene, Alceu debruça envergonhado
e Safo lamenta suas desventuras.
A poesia está em chamas no Café La Plata
e, eu me alimento desses gestos pequenos
dos seus olhos
dos seus cabelos
da sua pele macia
em minhas veias, nos meus lábios
anseio mordiscar esse sorriso que te escapa
embebido em mel e sal dos seus lábios.
Me torno um Dom Quixote de outro jeito
sem armadura, nem cavalo arreado;
marcando passos com pernas de anjo
deslizando nos cumes dos montes
derrubando lágrimas das nuvens.
A poesia está em chamas no Café La Plata
e você está absurda, absorta, algures...
expondo-se
exalando-se
como o sol úmido e solidário de Paris
que banha seus cabelos em raios dourados.
Me disfarço de Perseu, não temo Hades
venço titãs por ti Andrômeda
princesa, ideal inatingível
que busco no piscar de cada estrela.
A poesia está em chamas no Café La Plata
e você se rende, cativa, vencida no palco.
peço a música
danço a valsa
beijo seus lábios
estamos em chamas!