ALMA DE BORBOLETA
Segui a luz do farol.
Caminhei quinhentos metros, porém minha alma sentiu um fardo de 48 horas sobre as costas. Eu ainda não tinha asas. Minha mãe disse que as pessoas são doentes e que iriam cortar a minha leveza, por isso ela nunca deixou que eu voasse por aí. Caminhei mais quinhentos metros e mais mil e mil e quinhentos; e eu continuei a sentir o meu fardo pesar séculos nas minhas costas. Olhei pro céu e perguntei “Mãe, já posso voar? Minhas costas doem!” E no mesmo instante ela me mandou lágrimas. Milhares de lágrimas. Lágrimas que molharam a minha face, a terra seca, o alimento do mendigo, o vidro de um fusca que passava e a roupa velha que jogaram no lixo. “Está chorando mamãe?” Ela me respondeu que não. Continuei a caminhar pensando que a eternidade talvez existisse e que a minha leveza iria chegar. Não me dei conta que já havia percorrido todos os caminhos possíveis e que eu nunca quis voar. Eu segurei minha alma quando me empurravam para que eu seguisse. Eu deixei que o meu ser sumisse entre as águas de um rio torto, e de uma mata sem fronteiras repleta por espinhos. A cupa foi minha. E minha mãe sempre me perguntou quem eu era. Bizarro para um filho, não? Minha mãe não sabia quem eu era. E hoje, depois de muito tempo, eu soube respondê-la. Num tom quase imperceptível eu soube citar: “Eu nunca estive por aqui mamãe. Eu sempre quis borboletar. Minh'alma estava por aí… voando com incontáveis asas. Minha dor virou vulcão e eu tapo essa explosão com as minhas asas.”