O Pico Agudo

Lá de onde eu morava, do lado do Bairro da Mococa na fazenda do meu avô, Distrito de Lavrinha, Município de Pinhalão, embora criança, eu fosse, já tinha a esperança de encontrar pela vida de quimeras, os sonhos de bonança do bom sentido de viver para enfrentar o dia-a-dia comum de um tempo futuro não muito distante. Arrojado de espertezas na grande fascinação que absorve àquele que vive a mirar o horizonte distante, como que buscando explicações ao significado de todas as coisas, mirando o Pico Agudo eu cresci. E, bem ou mal, mil folguedos na infância eu vivi.

O arrulhar das pombas ao entardecer, pousadas no pé do ipê, traz a monotonia no som emitido, como se misturando ao respirar da gente e nele contivesse a tristeza retratada do horizonte distante. Se a pomba arrulha, me entristece e, começo a pensar naqueles que dali se foram para nunca mais voltar.

O Pico Agudo era parte de quase tudo, mas o que se ouvia falar era de causar arrepios, lenda antiga dos primeiros moradores de Pinhalão; que lá no topo da montanha habita um “corpo seco” e que assim se transformara por haver, esse ser humano, quando vivo, escondido dinheiro em suas entranhas por ocasião da invasão do Paraná pelos federalistas vindos do Rio Grande do Sul, por volta do ano de 1894.

- Corpo seco no Pico Agudo?

- Sim! E, dizem que é do fundador da cidade Pinhalão, Senhor Geraldo Vieira da Fonseca.

Geraldo Vieira da Fonseca, realmente é o fundador de minha cidade, era, segundo, os mais antigos, um fazendeiro abastado e orgulhoso, ao ponto de não montar seu cavalo, se outra pessoa nele o fizesse. Certamente, somando isto, com o fato dele não usar o mesmo chapéu do modelo que outros usavam, mais o feito do “enterro” das patacas de ouro em potes de barro no monte da minha contemplação de menino, fora castigado pela imaginação de algum incrédulo e tão falante ao ponto de o fato se tornar uma lenda muito conhecida na região.

Para mim, não é motivo de medo, acho que ele há muito se transformou em pó e tem o meu respeito por ser, digamos assim, o pai da minha gente pinhalonense. Nossa! Tanto tempo se passou e a arte da contemplação do Pico Agudo, hoje é sentimento que se fez magnificência na inocência de um indiferente olhar. Criança eu era e aqui estou tentando, ainda, abortar minhas reminiscências sobre um passado que não mais existe. Apenas a montanha daqui eu vejo, antevendo seu desmoronamento pela incontestável depredação do próprio tempo.

Nada feito! Volto, pois ainda, reside em mim a criança que persiste na única lembrança que existe para agredir o outrora, que na contemplação do agora, apenas ilude fazendo bem mais rude a minha fascinação. Numa tarde de setembro, eu me lembro, fui até lá e subi e caminhei por uma íngreme trilha escorregadia e cheia de pedras. Nada de especial aconteceu, se bem que era de dia, apenas uma vista maravilhosa; até a antiga fazenda que era do meu avô, eu enxerguei, enfim, conquistei o Pico Agudo e lá em seu topo, uma visão perfeita da agricultura do lugar e ao lado de uma roseira, uma cruz cravada no chão duro. Para a eternidade? Não sei! Só sei que o Pico Agudo, fez-se um marco da saudade deste meu eterno recordar.

Valdir Merege Rodrigues

Pinhalão - Paraná

Valdir Merege
Enviado por Valdir Merege em 28/04/2014
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