Cotidiano

Foram-se os poemas eróticos e as palavras em rima... as surpresas...,

Vieram os telefonemas sempre noturnos e previsivelmente em dias alternados.

Surpreendidos foram pelo cotidiano.

Amarrotados, encaixotados nas paredes do dia-após-dia.

Foram-se as mensagens curtas e declarações do tesão incontrolável, que ainda hoje alimenta a chama de ambos os corpos,

Vieram os eu te amos e algumas juras de “às vezes” eternidades.

Foi-se o derramamento de afeto e a presença nos espaços virtuais,

Vieram, além dos diálogos cada vez mais monossilábicos nas “redes”, os muitos abraços e beijos trocados nos espaços “reais”.

Foi-se a emoção inicial das frequentes chegadas e partidas compartilhadas às vezes em apertados colchões,

Vieram as noites dividindo camas espaçosas onde, muitas vezes também se divide longas crises de insônia e sonhos intranquilos.

Foi-se o medo do compartilhar os afetos,

Vieram as famílias, amigos(as), histórias de ambos para acrescentarem mais vida à vida dos dois.

Foi-se a leveza do “quase relacionamento” que deixava o muito de intimidade de fora,

Veio o fardo das experiências vividas impossibilitando as novas de acontecerem sem comparação com as anteriores.

Foram-se tantas coisas que ela nem sabe dizer, do muito que resiste,

O que vive porque é de agrado e o que subsiste apenas por hábito ou por falta de amar-se mais.

Coisas que foram... gente ... sentimentos... outras que ainda irão... histórias...

Da certeza de saber-se apenas que nada é eterno.

Coisas vão, outras chegam e algumas simplesmente mudam de face.