O SILÊNCIO DOS INOCENTES

O silêncio dos inocentes

Um grito de dor,

Uma voz que não se propaga.

Um mundo de horror,

Uma ilha, uma enseada.

Um oceano que não é banhado,

Cabelos que não são afagados.

É um problema, é uma doença;

Não fazem parte do Estado.

São olhos que procuram os meus,

São mãos que procuram as nossas.

São como os filhos seus,

Se afogam em pequenas poças.

Um charco de pouco lodo,

A boca voraz do lobo.

A cota de desprezo bobo,

Um pouco e muito do todo.

O todo que não tem tempo,

Não doa um só momento;

Não deixa ele falar,

Não quer se comunicar.

O mundo já tomou conta,

E mesmo que o sol desponta,

Não aquece o frio que faz,

O frio da indiferença,

Que enregela a inocência,

Que faz guerra pela paz.

Um passou despercebido,

O outro, um pouco distraído,

Se fez de desentendido,

Não olhou para os lados,

Apenas lançou os dados

Para um grupo fechado.

E eles continuam sem voz,

Vociferam de forma atroz.

Urram nos guetos e palácios,

São faces da mesma moeda,

São frutos de nossos pecados.

Os braços abertos são sinais de apoio,

Até que eles têm esperança,

Mas alguém precisa abraçar

E olhar pela criança.

A criança que é um pequenino,

O grande que pegou seu destino,

Fez dele um desatino,

Mas que assim como eu e você

Ele quer falar,

Quer ser ouvido,

Quer ser alguém,

Quer ser,

E espera, assim como eu e você

Um novo amanhecer...

E eles continuam sem voz,

E nós continuamos sem falar.

Poderíamos falar por eles,

Mas preferimos nos calar.

Ele silencia por não ter quem ouve,

O outro silencia por não querer falar.

O peso da cruz que martiriza os ombros.

A dor nevrálgica dos pólos que não quer se abrandar.

A inocência que não é ouvida,

Os gritos de uma infância perdida,

A inocência que se cala,

Uma é a pureza conspurcada,

Outra, a fraqueza complicada.

Eles vão encontrar-se em algum lugar;

O tempo se encarregará de os aproximar,

Para que ambos possam ouvir,

Para que ambos possam falar,

Para que possam olhar.

Se enxergar,

Se abraçar,

E ser inocentes...

A mais pura voz da inocência.