O Mentor do Sonho
Estava parado, vidrado
olhando para o teclado.
As palavras enroscadas entre a garganta e os dedos.
Bem ao lado, um homem de rosto sulcado
Olhava para mim;
Era o Velho Bukowski
dizendo assim,
Não sabe sobre o que escrever?
É porque não soube o que ler.
Escreva sobre qualquer coisa, sobre a Lua de ontem, tão bela;
Foda-se se já escreveram milhões de coisas sobre ela,
A lua é a mesma, mas o luar não,
e ele sempre se renova, a cada olhar.
Caralho! Escreva sobre tua unha encravada;
Sobre tua primeira trepada
que você mal tinha terminado e já estava louco para ir contar para os amigos.
Fecha o meu livro. Você não vai achar nada aí,
se copiar uma palavra, meu editor vai te processar;
Escreva sobre tua próstata que deve ser arrancada
e você está se cagando de medo:
Não tem segredo, solte a língua,
Vai ter que fazer isso de qualquer jeito.
Use um palavrão, palavras de baixo calão
não requerem rimas.
Se anima.
Fale deste vazio doentio, que a liberdade deixa;
Andar com as próprias pernas é para os fortes
Era melhor continuar sendo proletário, pau mandado
Remunerado;
Vivendo à sombra de sobrenome alheio
Se assuma
Ser escritor é se expor,
se rebaixar, mostrar a bunda.
Fale sobre as putas, sobre os bêbados,
sobre a lua
Estes seres da rua que servem
a todo mundo.
Foi assim que eu me sobressaí.
Os grandes escreviam sobre os ricos e nobres, sobre os santos
Achei meu nicho. Ache o seu.
Existe tantos.
Pra mim já deu
Tô velho pra isso.
Você tá velho pra isso!
Fui.
Procure outro mentor.
Acordei.