Amor Chinfrim 
Por Carlos Sena. 



Quero um amor que não me cobre da vida os juros. Juro que amor tem que ser livre e que debaixo do cobertor nada se encoberte, nem mesmo suposições. Quero um amor ser ardor, mesmo sabendo que a vida por momentos arde, faz alarde. Por isso quero um amor assim meio chinfrim. Amor chinfrim pra mim é aquele amor "simplinho", rotineiro, cheinho de nada excêntrico por dentro; cheinho de cheirinho de terra molhada, de canteiros de cebolinho e alface no quintal. Um amor mais etc do que tal. Porque no etc da vida a gente vai alinhavando o amor convivência, o amor que se contenta com a cabeça no colo do outro, com um cafuné na cabeça para ajudar adormecer. Um amor em que a gente possa viajar para ter a alegria de voltar. E que nessa volta a gente encontre o mesmo cheiro na cama, o mesmo olhar sempre tranquilo que nos acalma e nos faz crer no amanhã. Quero, pois um amor sem ser 3D. Amor cinemascope. Amor sem contos e sem fadas, mas com muito fado pra contrariar a riqueza dos pensamentos maldosos. Amor trivial, qual calça jeans básica que sempre está ali, conosco, nos servindo. 
Um dia quando o amor se for, nunca irá sozinho. Levará consigo a saudade minha e eu sozinho não estarei posto ser a saudade dela. Nessa ocasião, terei que dispor do silêncio para compor meu réquiem da ressurreição. Será nessa hora que eu saberei o tamanho do meu amor. Se eu puder mensurar, alvíssaras! Se não, é porque meu amor me foi bastante para não precisar de mais ninguém. E o amor não me teria cobrado da vida juros. Nem juras de amor vão. Assim, debaixo de um pé de amora, amores lembrarei. Debaixo de um pé carambolas, bolas darei ao sol que me abrigará na colheita das horas dos meus outonos...