As Três Marias
Da última vez que olhei para o céu distante, noite quente do mês de janeiro, estava tão estrelado que me perdi inebriado no esplendor desses pontos tão altos e tão brilhantes. Seriam jóias raras dependuradas no azul do infinito ou o azul do infinito estava alquebrado diante do meu espanto? Era noite de despedida! Um grande amigo haveria de partir em poucos dias a um outro continente distante, tal qual o nosso banhado pelo Oceano Atlântico. Haveria de partir deixando para trás sua família e seus companheiros. Eu, seu melhor amigo nunca, jamais, houvera aprovado tal decisão. Mas sua cabeça cheia de sonhos e seu coração já partido pelas desventuras desta vida, fizeram que eu não conseguisse demovê-lo de tal absurdo: Buscar riqueza na América! Pasmo, ante tal coragem desse moço impetuoso do signo de Áries. A maior riqueza não é ter valores materiais e sim, louvar uma família, acompanhar o crescimento dos filhos e ter um amigo para vê-lo sorrir! Ao menos para mim, isto basta, mas a desventura de um casamento que não deu certo fala mais forte, impõe coisas que nem imaginamos e a distância, quanto mais longe melhor!
- Está vendo aquelas três estrelas alinhadas em meio a tantas outras?
- Sim, respondi com certo aperto, um nó na garganta... A saudade já estava presente, tanto, quanto o fulgor das estrelas.
- É a constelação das Três Marias! Disse-me com delicadeza. Irá sempre me lembrar das coisas que amei e agora as deixo para trás!
Pressupus a lembrança do nosso relacionamento tão amistoso, invejado pela maioria de tantos outros moços conviventes em nosso meio que não tiveram o prazer ou o desprezar de trilhar tantos caminhos juntos, como o fizemos muitas vezes. Viagens à praia, banho de sol, sal do mar se misturando com as águas que fazem ondas gigantes. Sal da lágrima se misturando com a areia quente, criando sulcos no solo e na pele que para se proteger do calor, torna a cor morena em um tom de bronze cintilante. Assim, e um tanto invasivo, meio egoísta adiantei, indagando:
- Quer dizer que as Três Marias simbolizam você, sua esposa e eu?
- Não! A do meio sou eu, a da direita minha primeira filha e a outra a minha segunda filha.
Calamo-nos e meu amigo partiu. Entristecido, ainda, ousei apertar aquela mão que um dia tanto me servira, no trabalho, no lazer, nas aventuras e ciente eu estava de que o tempo e a distância sempre modificam as supostas certezas daqueles que vivem uma ilusão. Faz tempo que de noite não olho para o céu!
Outro janeiro chegou de mansinho, tão quente, quanto os outros janeiros que se passaram. Resolvi então encarar o céu com a altivez de um soberano. Sóbrio, calmo e sereno, foi bem assim que eu vi as Três Marias, mas preferi fixar meu olhar na constelação do Cruzeiro do Sul, símbolo da fé de um povo que acredita na paz e no amor. Nunca o esquecerei! Coragem meu irmão que outras estrelas hão de brilhar no imenso azul do firmamento!
Valdir Merege Rodrigues
Pinhalão - Paraná