UMA PAISAGEM DOS SERTÕES SECOS

UMA PAISAGEM DOS SERTÕES SECOS - Expedita Maciel.

A seca castiga o nordeste,

mas também vai para o oeste - Goiás, Brasília,

Não só Asa Branca bateu asas,

Mas todas as aves do céu.

Só ficaram os urubus,

que, com seu calundú esperam pacientes

a morte dos bezerros;

e o cachorro esperto, por certo,

para não ter a mesma sina

divide com os urubus,

com apetite voraz, seu petisco.

O sapo come os insetos,

mosquitos, etc.

Cobra comendo os sapos,

não tem mais a cantoria,

o coro entoado dos sapos.

Gavião engoliu o socó,

que cenário triste!

Canário não canta, só o gemido

da morte que assola o solo

e os que dele sobrevivem.

Meninos eu vi,

Que cena triste!

A represa e a lagoa secaram que racharam,

nada sobrou.

O Mandacaru que é duro de morrer

e a Palma que com palmas

alimenta a criação, também morreram.

Não há verde!

A caatinga está preta.

Não tem alimento para o bezerro virar boi.

Água só na lágrima do seu dono

por perda da criação,

mas se não for embora

secam os olhos também.

A poeira seca, se você cuspir, faz tijolo.

Tudo piora, por hora,

por conta de um progresso

e da usura, sem censura,

pois na vida dura não ficam árvores

para dar sombra aos animais

que se aquecem

e ressecam no sol e no calor causticante.

Eles precisam

aumentar as terras de plantio:

plantando lágrimas de morte no homem agreste,

que está prestes a perder tudo,

que vai embora para não perder

também sua vida.

O homem agreste,

com tristeza fecha a porta e a porteira,

joga o sonho de menino,

de crescer e morrer na terra

e sem saber seu destino sobe no caminhão

com muita emoção,

as lágrimas a rolarem nos seus olhos,

pede a São José que um dia

faça chover e ele ver

voltar a vida na terra,

e ele poder voltar

e começar tudo de novo...

Com as bençãos de Deus Pai.

*Expedita Maciel Viana – Autora do Livro: Vim, vi e venci.