Beijo de Prata

Dou um beijo de prata na face daquele que não conseguiu acompanhar a procissão, que ficou pra trás no andar decadente dos que levavam a imagem louvando a expressão máxima de suas esperanças: um pedaço de barro, um pedaço de gesso, um pedaço de ilusão!

O beijo é o prêmio para aquele que conseguiu se perder da multidão, e ao se perder, encontrou qualquer caminho mais valioso, afinal, o abismo, e só o abismo, é o destino dos que caminham nas sombras perturbadas dos dementes fanatizados da fé. O destino destes tolos fanáticos é a morte.

Todos os dias eles aceitam as desgraças, os fracassos e as percas justificando tudo com a expressão máxima de suas inteligências (sim os fanáticos cristãos são ignorantes ao extremo) que se resume em dizer: "foi deus quem quis assim".

Quem me dera doar mais beijos aos que se perderam da procissão de fanáticos que caminha sob a luz da vela da ignorância que está prestes a ser apagada pela insensatez humana. Nesse caso, a perdição é a única salvação, pois este deus, o palhaço deus destes fanáticos cristãos, não vale o pó dos meus sapatos, desgastados pelo tempo, ressalte-se.

O fanatismo deve ser substituído pelo amor. Essa imagem de um deus carrasco que está nos julgando o tempo todo, nos avaliando, para ver se nos dá o céu ou o inferno deve ser enterrada junto com essa procissão de fanáticos que teima em roubar do povo uma fé sã e sóbria, que possa elevar o homem, e não rebaixá-lo.

Eu mesmo beijo o espelho que reflete a minha imagem, afinal, também deixei a sombra maldita desta multidão de imbecis que louva a um deus segregador e separatista, pessoal ao extremo, que beneficia uns e condena a morte outros.

Hoje eu sou a encarnação da lança, da espada, do escudo, hoje eu sou a data certa de abril, eu sou o dia 23; e quando a curimba tocar sempre hei de convidar os ex-fanáticos a dançar...bem no meio do gongá.