ERA UMA VEZ......................................................
Era uma vez....................Assim começávamos nossas pueris estórias, pois que naquela época "Estórias" era a ficção de nossas criatividades.
Era uma vez, para além das cercas vivas que divisavam as chácaras da entrada das pequenas vilas.
Era uma vez nesses cenários de nossos ingênuos escritos, que descrevíamos na pobreza de nossos vocabulários as aventuras e desventuras de nossas iniciantes vidas. Povoavam nossas imaginações os mais belos castelos e seus principes arrojados. Haviam princesas, soldados e um imenso dragão, guardião da ponte do castelo. Súditos e castelãos viviam em plena harmonia.
Era uma vez uma floresta encantada onde os bichos falavam e, numa casinha de madeira toda ornada de flores viviam felizes seus moradores. A relva sempre macia, o céu sempre azulado, a bulha dos regatos serpenteando entres redondas pedras. Nuvens de algodão formando ícones e borboletas multicores pousando nas singelas flores do campo. Eis o cenário perfeito para a nossa tradução de felicidade.
Ah! essa felicidade dos idos de meninos e meninas, das tardes ensolaradas de dezembro, do cheiros agradáveis da mata, da brisa desmanchado de leve os cabelos.
Era uma vez.....o recreio da escola, o ensaio da fanfarra e da quadrilha para o São João. Era uma vez o desfile de Sete de Setembro e das cívicas comemorações aos ilustres da pátria amada.
Era uma vez o amor primeiro incendiando pequenos corações, as noites estreladas, pirilampos da flor da emoção povoando os sonhos das noites mornas de verão e das manhãs radiantes de sol, de doces ilusões.
Era uma vez, a tubaina, o pião, a pipa colorida, as bolas de gude, os balões multicores, o bolo de fubá, a limonada, o refresco em pó, as cantatas de natal.,o nosso pedido e,as concessões das bençãos de nossos pais.
Era uma vez a fotografia daqueles tempos, que hoje vai esmaecendo, deixando um vazio nos rostos que sorriam, apagando lentamente as estórias e morrendo nas linhas mal escritas de um velho caderno de brochuras.
O tempo foi passando célere e o "era uma vez" deixou definitivamente seu espaço para a crueldade do mundo real em que os castelos desmoronaram com seus príncipes e as fadas com seus encantos fugiram assustadas e refugiaram numa outra dimensão em que as fantasias de outrora não ousam reinar.
Os velhos colegas dos folguedos sumiram nos labirintos da vida adulta, buscando cada um construirem suas histórias, fazerem histórias, viverem nas sua próprias histórias e/ou morrer numa história dos quais não foram os autores de seus epílogos.
O mesmo sol radiante de outrora já não traz os mesmos encantos e as noites são mais frias. As flores do campo ainda vicejam ousadas nas orlas das matas,mas nossos olhos já não as enxergam como dantes.
Os festejos de antigamente são um arremedo do que foram. A banda marcial está silenciada num velho depósito e,as tubas, pistos e cornetas estão repletos de azinhavre, completamente calados. Aquele sentimento de patriotismo deu lugar para manifestações que muitas vezes não tem sentido. Salve a pátria amada refém de políticos e articuladores que defendem os particulares interesses,contrários às vontades polulares que os escolheram por sufrágio.
Os tempos mudaram, já não se brinca mais com os carrinhos de rolimã, já não contamos mais histórias de assombração pois as assombrações acabaram por se materializarem no consumismo, no individualismo, no egoísmo, na ambição desenfreada de somente ter. Esquecemos muitas vezes que precisamos urgentemente Ser. Ser , mais humanos, mais singelos, mais humildes, menos gananciosos e mais tementes e adoradores de Deus.
Era uma vez...................................e o sinal do recreio da escola tocou pela última vez, quando eu terminava minha infantil, pura e inocente "estória" sobre o que realmente era felicidade. Era uma vez....................................................e eles morreram infelizes para sempre.