A Despedida
Foi assim que o Sol poente se escorregando por trás das montanhas no longínquo limite da visão se despediu do dia, fazendo a Lua levantar-se por detrás daquele monte de onde o Sol nasceu e subir vagarosamente em seu esplendor único e inimitável, resplandecendo sobre a abóbada celeste a grandiosidade do imaginável, a cor prateada que pouco a pouco veio e se esparramou pelo chão das formigas cortadeiras. A hora já derradeira, também se despediu de quem esperava o passar do tempo que parecia não ter fim, e assim, se foi ao relento acalentar os hóspedes que viriam em seguida, sem nenhuma guarida, abrilhantar ainda mais tão indescritível evento. O ritual do anoitecer que sobre as colinas desmaia trouxe em silêncio, num ritmo angelical as milhares de estrelas que aleatoriamente e lentamente foram emergindo na imensidão do céu e, por dentre névoas, o véu do luar esbranquiçado colocou-se sobre a noite, tornando-a serena e calma, por ser talvez a mais encantadora noiva do universo e você não viu, simplesmente partiu, deixando a saudade para dilacerar o coração de quem espera!
- Seria então a hora da despedida?
- Não sei, eu confesso... Não queria que partisse. A despedida dói muito!
E, pela madrugada com um nó na garganta, destes que duram semanas até a emoção se dissipar com o labor de todo o sempre, pairou no ar o soluço do vento e a tristeza se fez de forma tamanha que, o indigente contorcendo-se na relva umedecida pelo orvalho, teve a petulância de se apagar, de tão cansado dormiu, como quem dorme o sono dos justos! Era apenas o pirilampo é claro, tentando se passar por estrela num frenético pisca-pisca fosforescente, nem percebeu o choro daquele que dali condoído apertava a mão de alguém que se despedia. Despedia do lar, do campo do seu bioma conhecido pela insignificante espécie de seres ali viventes. Até mesmo a frondosa mangueira que ali existia há muito já havia morrido, suas folhas despencaram-se dos galhos em protesto aos maus cuidados que lhe foram dedicados ao longo de sua perene existência. A saudade dilacera o coração de quem espera!
- Quê é camada de ozônio? Você me perguntou um dia!
- Nada mais que uma redoma feita e colocada no espaço sideral pela natureza para proteger a biosfera do calor escaldante do astro-rei. Meio indeciso respondi!
Tudo é feito de fórmulas e formas, mas para a vida só há uma norma: O respeito para com a natureza, pois dela somos integrantes e a ela pertencemos. Quiçá, não foi por força dela que o sonho aos poucos se desfez? Não teve mais jeito, tornando a despedida um simples gesto de irresponsabilidade para marcar a grandeza dessa ingratidão! Não podia chorar, mas também não havia como conter as lágrimas que brotavam dos olhos perdidos na linha do horizonte. Tanta mágoa, lágrimas de água e sal a entornar os cântaros existentes nos quatro cantos do mundo não haveriam de justificar a dor causada em mim pela sua partida! Vai-se o dia, vem a noite e a madrugada que me açoita, inda me faz soluçar a dor da despedida, do abandono e como cão sem dono caço como gato o conforto do derradeiro abraço, recato contido na solidão do meu quarto, farto da ausência de alguém que um dia fez-se ilusão. Disse adeus e partiu, sumiu não respeitando os sentimentos que moravam nesse humilde peito, antes essência do amor, agora transformado em algo depressor abrigando o resignado calor dos momentos vividos e que, certamente espera e quer que não voltem nunca mais. Adeus, doeu muito!
Valdir Merege Rodrigues
Pinhalão - Paraná