A singeleza de meus avós
Não são raras as vezes que sinto imenso desejo de escrever, fico literalmente “subindo pelas paredes”, mas as palavras me vem, e voltam com tamanha rapidez e inconstância, hoje, porém, deixarei que venham até mim através de lembranças e me levem com elas ao mundo das avós e avôs. Quando crianças nutrimos um amor inexplicável pelos nossos avós, não são poucas as vezes, em que, preferimos eles a nossos pais, a casa de nossos avós tem uma magia que encanta, o tempo passa e a magia permanece. Não recordo-me, nem poderia do meu avô materno, não havia nascido ainda, mas costumo ouvir maravilhosas histórias a seu favor, gostava de fazer rir, contava histórias engraçadas, narradas hoje, pela minha mãe, e assim fui construindo sua imagem em minha mente, imaginei tantas coisas que poderia ter realizado com ele, como ele me trataria. Há... Como me agradaria passar um tarde com ele, este homem que contribuiu tanto quanto meus pais para minha formação, para ser o que hoje sou. O admiro, o respeito, o amo e não preciso ter o conhecido para isso. Minha vozinha materna morou conosco muitos anos, nunca conheci alguém com o coração dela, capaz de saciar a fome de quem a tinha e matar a sede de tantos quantos passassem por sua casa e pela nossa. Esteve conosco até os últimos dias, lembro-me das vezes que tirava comida do próprio prato e escondido de minha mãe nos dava, mesmo saciados, ela fazia questão, assim fazia com os vizinhos também. Gostava de colar nas paredes do quarto, fotos de políticos que ela admirava, tinha medo de víboras que ela chamava “bibra”, andava com as mãozinhas para traz, observava as coisas e sempre tinha algo a falar, gostava de dançar e também nos fazia rir. Dia que jamais esquecerei é o de sua partida,13 de fevereiro de 2001, em que um telefonema avisava de sua partida para morada eterna, desde lá até aqui sempre lembro essa data em que nós perdíamos um pedacinho da casa. Outra dor imensurável foi a de alguém, que estive mais presente ainda em sua vida, meu avô, dor sem tamanho, que parece não passar nunca e não passa. Costumava me chamar de nega, andava vagarosamente pela casa, ainda chego a ouvir o chiado de suas chinelas, nos últimos tempos teve como amiga inseparável uma bengala, que ele chamava de “cacete” e dizia: “dê cá meu cacete nega”, além de ameaçar todos quando diziam gracinha com ele. Dormia todas as noites com eles, quando cansada chegava da faculdade, eles deitados, mas acordados ainda me esperavam e só assim dormiam. Ele partiu também... Está conosco ainda minha vó paterna, Vó Júlia, uma mulher forte, que viu partir a filha e em seguida o companheiro de tantos anos, e que ainda sorrir. Acolhedora, simples, humilde, feliz e que assim como minha vozinha materna tem um coração gigante e uma fé inabalável, sei que já não demora a partir, mas tenho medo, sofro antecipadamente, quero dar o seu nome a minha filha se um dia Deus me permitir ter, quero que ela saiba a grandeza e fortaleza que sua bisa foi...