EM QUAIS ESTRELAS?


Talvez um deus pensante
entre em sua caixa de silêncio
e chore.
Chore por seus arremedos de crias
que escravizam os homens,
que de igual forma também escravizam os animais.

O tempo das asas podadas ainda não passou.
Não se passaram ainda os séculos de cegueira.
Aqui e alí o "gado humano" e também o animal
continuam indo para o matadouro.
Matadouro de sonhos, matadouro de corpos,
matadouros de almas,
furados os olhos do deus pensante
nos olhos dos seres inocentes
e ainda uma dita humanidade dorme tranquilamente
sobre esses universos vazios de luz.

E faz preces, dança e chora e ri...
como o Condoreiro bem cantou
em seu Navio Negreiro.

Senhor Deus,
em quais estrelas um dia brilharão Teus olhos
para iluminares as trevas dos nossos
muito além do pão nosso de cada dia?



(Direitos autorais reservados)


imagem: http://valberlucio.com/2013/10/17/brasil-fica-entre-100-piores-em-ranking-de-escravidao/

(*) Nota da autora:
Esclarecimento: meu texto acima não pretende ser uma oração, nem prece, e tampouco tenciona aludir  a qualquer tipo de religião.  Como bem disse o escritor Bernard Gontier aqui abaixo, trata-se   "do lamento de uma consciência" . E o verso "Senhor Deus (...)" pretende, apenas, humildemente,fazer uma pequena alusão aos versos de Castro Alves "Senhor Deus dos Desgraçados/dizei-me Vós, Senhor Deus/se é loucura,  se é verdade/tanto horror perante os céus (...)"

 
Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 31/03/2014
Reeditado em 02/04/2014
Código do texto: T4750856
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