"UM SONHO PERTURBADO"
Concebi um poema e quase nele não me reconheço.
Quando lhe dei sonhos?
Quando lhe dei chagas?
Quando lhe dei asas?
Cheio de angustias veio sorrateiro, sofrido.
Veio como flor despetalada, com úberes palpitantes
de acalanto.
Veias de dois seios, com sonhos perturbados.
No poema encontrei sementes, urtigas aveludadas
e as coisas relativas em agonia,
as dores como rochas enterradas.
Surpreendi-me com o poema acontecido,
cheio da poeira de outra alma desolada.