QUANDO ABRIMOS A JANELA...

Uma janela parecia se fechar...

Terminara mais um evidente ciclo existencial quando novamente a ela se descortinou um pleno cenário por uma nova janela.

Mudanças são verdadeiros poemas, é necessário coragem para declamá-los um a um, na ênfase e no ritmo exato das rimas, posto que em cada verso há novas sensações, sabores, odores, enfim, novas gentes e novas texturas de vida.

A pirambeira que norteava o seu cansaço do mesmo caminho de sempre agora era substituída por um terreno aplainado, donde lá se via pelo retrovisor todo o exuberante nascer do sol que sempre nos faz novas rimas.

Se o pôr- de -sol sela histórias,é certo que seu alvorecer nos as devolve reformatadas de novos atos teatrais, mas verdadeiros.

Quando abriu a janela, foi ele, o astro rei, quem lhe cumprimentou pela chegada desgastante, a adentrar a sala amornando sua face pálida, como se lhe fora um troféu bem guardado, oferecido como recompensa a quem chega da distante largada duma extenuante maratona..

Sentiu um carinho especial naquele encontro, quiçá uma cumplicidade, como se ele tentasse lhe aquecer de todas as frialdades vividas nos últimos instantes, a lhe pedir desculpas por ter se ido calado ao fim de tantos horizontes...

Mas ela sempre ouviu o silêncio gritante dos pôr- de- sóis...e ali ele sabia do seu suado bastidor anoitecido.

De súbito andorinhas pousaram no peitoral da vidraça, espalhafantando suas penas nos vidro semi cerrados pela brisa dum vento calmo de outono recém chegado.

Entusiastas, elas lhe davam as sinceras boas vindas.

Bem- te -vis faziam festa ao reverem os destinos inexoráveis das missões verdadeiras de vida, as das vidas verdadeiras, missões que ninguém as furta, e os sabiás, aos berros, lhe diziam mais uma vez que já sabiam de tudo.

Sabiás sempre sabem porque Deus também lhes deu asas poéticas para voar...

As flores, ah, as flores...

Todas elas falam, e ali prontamente ela sentiu que Cartola se equivocou nos versos sobre as rosas.

Todas as flores do seu novo caminho falavam consigo e um gerânio vermelho e solitário a esperava na porta de entrada.

Crescera tanto que imaginou ser adubado com todas as boas auras do espírito do novo local, as que tanto lhe faltavam acolá.

"Olá "-disse-lhe ele, algo ressabiado porque ele também já sentira que mudanças inspiram alguns cuidados.

Eles sabiam que quem vê flor...nem sempre vê coração florescido.

Da sua nova janela, maravilhada, ela via todas as vias de todos os seus caminhos antigos.

Nunca lhes pareceram tão abençoados os antigos caminhos.

Subidas, descidas, curvas mal sinalizadas, pedras, pedregulhos, buracos, suor, esforço sobre humano e alguns oásis para saciar a sede de fazer acontecer o necessário da sua missão consciente, personalíssima e tenaz..

Aprendeu que necessário é fazer a diferença nos cenários, a mínima que seja, ainda que seja transpondo muros intransponíveis dos descasos.

Carregou consigo lembranças boas, gente querida e gente professora de todas as matérias duras da vida, porque nada é absolutamente tudo ruim. O bem apenas resplandesce em contraste com o mal...e à poesia é permitido contrastar todas as lentes aos entornos apáticos.

Do maior aprendizado que teve: entender que ausências fazem falta perene, ainda que sejam ausências das presenças combatidas em massa falidas pela inconsiência dos atos necessários.

Os eucaliptos de lá lhe perfumam até hoje.

Consigo também levou a gratidão silenciosa dos que não têm voz, qual a gratidão que carrega pelo amarelo daquele ainda pequeno Ipê da calçada em frente,que ninguém via, e que por três dias de cada seus tantos anos ali lhe cobria de flores e de esperanças de novos sóis, a também levar consigo as tantas pedras das quais , pela vida, todos tiramos folego de vida, o Ânimo e as forças necessárias para sempre abrirmos novas janelas; as que se abrem ao nosso horizonte firmemente ancorado nas nossas mais imutáveis convicções de vida.

Quando abrimos nova janela, entendemos que nada nem ninguém segura o destino do sol de Deus, que sempre se levanta brilhante a nos adentrar e iluminar o íntimo das frestas do espírito, as que ninguém fecha...