A VEIA DO POETA
A VEIA DO POETA
Há anos se debruça sobre papeis e escreve,
Sem ver nesse mister um compromisso.
É um prazer escrever: e ao contar histórias,
Nelas louva a vida, esmiúça sentimentos...
Esgota o coração de alegrias, lembranças, contradições, anseios.
Suas cartas de amor são mimos, são ternuras;
Seus poemas primores de harmonia e métrica.
Ao descrever a flor e seu perfume,
Seu desejo tenaz é demonstrar completo
O sentido ideal da flor e da fragrância.
A inspiração o leva a indizíveis procuras;
Aceita o flagelar da mais atroz insônia,
Na ânsia de encontrar uma expressão perfeita,
Que possa coroar o desfecho de um verso.
O tédio se insinua; às vezes a rotina
Dos dias o conduz a um descompasso,
Que o afasta da luz que lhe alumia a vida,
E ele se curva ao vazio, e ali depara o medo
De que lhe falte a graça do arrebatamento
Que o leva à criação.
Vê esgotada a fonte, desbaratado o leito
Do rio, onde corriam aguas de pujança;
Uma senda de areia estéril descortina
Uma paisagem de desesperança.
Outro dia vem... Outra noite, a virada
De pronto o reconduz à palavra e ao verso.
A inspiração reluz e, como estrela guia,
O resgata da dor aonde estava imerso.