ESTE CHÃO QUE NÃO É NOSSO
Este chão que hoje piso
já foi pisado por tantos outros
que vieram antes de mim.
E sobre os meus passos,
outros passos virão
e apagarão os meus rastros
e depois outros e mais outros
e mais outros.
As palavras que hoje digo,
já foram ditas antes
e serão ditas amanhã
pelos que vierem depois de mim...
Vejo o sol que nasce todas as manhãs
lá ao longe, por detrás dos montes
e fico pensando que outros olhos,
muito antes de mim,
já admiraram essa natureza sem fim
e se inebriaram perante a beleza
do pôr-do-sol, do outro lado
naquelas grandes montanhas
que se perdem além...
Viram o brilho das estrelas
que surgem do nada,
espelharam-se nas límpidas nascentes,
molharam as mãos, beberam a água...
sentiram o perfume de flores
que desabrocharam, enfeitanto jardins,
muitos outros jardins!
Aqui estamos apenas de passagem,
como viandantes solitários
que passam, veem, escutam, sentem
mas nada levam,
num ciclo de vida em chão
que não é nosso...
E depois vamos embora
para dar lugar a outros
que farão o mesmo percurso sempre.
Ficam as árvores que plantamos,
o amor que semeamos
e de resto, mais nada,
simplesmente mais nada...