BRINCANDO DE ESCONDE-ESCONDE

“O SALTO MORTAL

Joaquim Moncks

A nave de viver necessita de um cais preciso, nem que seja às margens do precipício. Ali nasce, por vezes, a esperança: um parafuso que nos atarracha a espaço e tempo. Uma chave sobre a fenda que a mão invisível aperta com mãos de veludo, só pra não espremer a ferida, produzindo dor e sofrimento nos portais da matéria. O mergulho é sempre corajoso – propõe o salto mortal pra dentro do poço. Há uma incontida náusea em todos os episódios crepusculares. Uma espécie de ponte para o nada... Uma vertigem ou o amanhã sobre outro cais?

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3684807

Enviado por Joaquim Moncks em 24/05/2012.

Reeditado em 24/12/2012.

Código do texto: T3684807”.

– interlocução de Maricler de Campos Ruwer, pelo Facebook, em 18/03/2014:

“Muito bom, Mestre. Como sempre, um desafio insondável. Confesso – não consegui chegar a um consenso. Mas mesmo assim, encantada com o crepúsculo como “uma espécie de ponte para o nada”. Ou quem sabe no amanhã, raios brilhantes iluminem novamente o cais preciso que a nave de viver necessita? Meu sempre carinho, Poeta Joaquim Moncks!”.

Estimada confreira de Letras Cler Ruwer! Bom que não hajas chegado a um consenso racional, e, sim, apenas à antevisão do poço dos episódios crepusculares, tal a noite ao girar dos dias, no findar-se do ciclo cotidiano – o singelo e anônimo cerrar das pálpebras da tarde que expira... Ou o da transposição para a outra margem noutro patamar, dia mais, dia menos, para todos os viventes. Este incidental (não vás me entender mal e tomar-me por vaidoso) mas apenas a título de pegar a criação como espécime a analisar. Este é o 'estranhamento', o nó na garganta que perpassa em nós quando nos topamos com a verdadeira Poesia, o dadivoso fruto da linguagem em sentido conotativo, tendo "... sempre o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres", como plasmou o universal Fernando Pessoa, em seu poema "Tabacaria", de 1928. Enfim, esta velada linguagem é que permite a frutificação da sugestão poética, aquela que diz muito em vários sentidos, e nunca o faz às claras, abertamente. E só chego a esta constatação verbal trazendo à tona minha criação pessoal como exemplo, devido à boa e dedicada interpretação, aquela que me alerta para a poeticidade libertada pela absorção da proposta: o convite à celebração do Mistério e os seus possíveis alumbramentos. E é unicamente o receptor que dá curso à proposta de transcendência para além da palavra. É este o encantador que mantém a palavra viva dentro do poema para que esta se abra no interior dos neurônios ou dentro de minhas artérias, no ciclo vicioso de criar e fruir. Um leitor de alto feitio interpretativo é um prêmio para qualquer autor. E o mundo se recria pelos olhos de outro, que não o aparente dono do texto, que de posseiro nada tem...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4734717