Prefiro não morrer
Prefiro não morrer mas, quando eu morrer - se eu morrer - não chores. E mesmo que eu vá sem que haja tempo para despedidas, não te desesperes: meu testamento já fora escrito; e em forma de prosa poética! Quero que alguém muito querido e de boa dicção faça a leitura.
Prefiro não morrer, mas muita gente que estava vivo anda morrendo por aí. Como fugir? Apenas peço que Deus me guarde: a mim, aos meus, aos dos meus e aos deles.
Prefiro não morrer; mas isto não é temor. É amor à vida, aos que vivem e convivem comigo. Entretanto, caso eu morra, apegue-se às lembranças do que vivi: dos meus textos - não tantos; dos meus feitos - não muitos; dos meus prazeres - os sabidos; dos meus amores - sempre tão declarados.
E não tenhas este rascunho por fúnebre ou melancólico. Ao contrário, o tenhas como uma confissão de amor ao privilégio de viver, de se construir e se reconstruir, quantas vezes for necessário, nesta mesma vida.